terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ano 2, Nº 09 - Setembro/2011

ISSN 2176-8005



Editorial: Apresentamos o Cenas, edição 09, que traz reflexões sobre a Adolescência. Os artigos foram escritos por acadêmicos/as, recém formados/as pelo curso de Psicologia da UNESC/RO, supervisionados por um docente, e apresentam, a partir de suas reflexões e práticas, contribuições inéditas a esta área em que o psicólogo tem consolidado seu espaço profissional. Mais do que “aborrecência”, esse período pode, além dos conflitos inerentes, apresentar oportunidades de sonhos e projetos de vida, de protagonismo, de arte e transformação da vida. E a Psicologia deve estar atenta a essa fase pulsante.

Boa leitura e boas cenas!
Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor.



ARTIGOS:
Vale a pena sonhar
Sobre adolescência, arte e recriação da vida
Crônica: Gotas de Mim 
Cena acadêmica/Social: Professor de Psicologia realiza trabalho em escola pública





VALE A PENA SONHAR[1]
Leida S. de Freitas Cesar e Vanda R. Lopes[2]



A realidade dura e o sonho
Carlos Roberto, Maradona e Kelvim eram amigos de longa data, desde os tempos que jogavam bolita na rua, e brincavam de pique com a garotada da rua, como toda criança que gosta de correr descalço na rua de terra, na época de lua cheia, ou lua nova em que a rua ficava clarinha e não dava para brincar de esconde-esconde, então se brincava de outras brincadeiras como cai no poço (era a chance de beijar a menina mais bonita da rua); porém, Carlinhos ficava fascinado pela lua, como que hipnotizado e parava as brincadeiras para contemplá-la, imaginando se realmente teria um jipe deixado pelos astronautas lá, como ouvira as historias do Sr. Geraldo de que o homem um dia fora a lua.
Carlinhos queria acreditar, porém seu pai, Sr. Ricardo sempre o trazia de volta a realidade, e falava: “_ Deixa de ficar com a cara pra cima e ‘abestaiado’, e vem me ajudar...”. Para o Sr. Ricardo mesmo que acreditasse que o homem tivesse ido à lua, não fazia diferença, pois a sua realidade não permitia que sonhasse, não tinha tempo para estas “bobagens”, como falava. Teria que colocar comida em casa para sustentar seus quatro filhos, tinha dois empregos (dois ‘bicos’) e sua esposa ainda lavava roupa pra fora.
Dentro deste contexto Carlos Alberto fora criado, apesar de pobre, honesto, idealizava um futuro diferente do presente em que fora criado, em especial sem a privação de muitas coisas que não podia ter, mesmo que sonhar nunca lhe fora privado de fazer. Aliás, por ser tão dura sua realidade, sonhava, imaginava se realmente o homem tinha ido à lua, e se foi, como fazer também para ir até lá. Que profissão deveria seguir para alcançar o seu sonho?...



Juventude e uma escolha difícil
Todos nós temos um sonho a ser alcançado, seja grande ou pequeno, um privilégio de todos, sem distinção de classes sociais, raça ou cultura, basta ter alma e ser mortal. Há tantos sonhos alcançáveis e aqueles impossíveis de se alcançar, o importante é sonhar: os sonhos são como se fossem o combustível do viver.
Hoje em dia temos o privilégio de escolher a profissão ou tentar a possibilidade de mudarmos de camada social, através de nosso trabalho, mas nem sempre foi assim, nos primórdios tempos, segundo Bock[3], a pessoa já nascia com a definição de sua classe social, fortalecendo e cristalizando assim a estrutura social da época, não haviam possibilidades de mudanças, dependia-se do estrato social que sua família ocupava na sociedade.
Na Idade Média este mesmo autor nos lembra de que se a pessoa tivesse o privilégio de nascer na classe dos nobres, nunca trabalharia e seria sustentada pelas classes inferiores que tinham o compromisso de proporcionar à nobreza boas condições de sobrevivência.
Em nossa contemporaneidade, a maior dificuldade talvez não seja a de fazer um curso superior, diante das várias oportunidades oferecidas como nunca existiu: cursos virtuais, programas de bolsas como o PROUNI, cotas para índios, cotas para portadores de deficiência, cotas para negros etc., porém, a escolha da profissão apresenta como a maior dificuldade entre os jovens: qual profissão escolher? E de que forma escolher?
A temática da escolha da profissão é abordada por Camargo, [3] ao afirmar que escolher uma profissão e investir nesta não garante trabalho para o jovem, é necessário que esse jovem saiba assimilar novos caminhos, novas possibilidades, e tenha vontade para lutar e vencer as barreiras que irá encontrar; destaca ainda, a participação dos pais e professores como indispensáveis neste processo de apoiar os jovens na tomada de decisões autônomas.
Carlinhos tem um pai que não pode orientá-lo nesta decisão, pois o mesmo tem uma visão diferente de sua realidade e de sua cultura; Basta: “o homem tem que ser honesto e trabalhador, qualquer profissão que ganhe dinheiro com honestidade dando pra sustentar a família (comida, roupa, pagar contas básicas) é o certo.” O ato de transformar uma situação em algo diferente que favoreça a si mesmo, segundo Camargo[4] denomina-se criatividade.
Usando esta minha máquina (notebook) e tendo acesso à internet, estou me utilizando do sonho de alguém (reconheço que alguém ousou sonhar e idealizar toda esta tecnologia que dispomos hoje); pesquisei algumas profissões interessantes e se encontrasse o Carlos Alberto e seus amigos de infância hoje (Maradona e o Kelvim) em uma destas muitas lanchonetes (que somente abrem à noite para se utilizarem das calçadas das lojas que se fecharam ao anoitecer) que vendem cachorro-quente e espetinho em nossa cidade (Cacoal-RO), daria a seguinte orientação:
“Estude bastante, faça o ENEM, inscrevam-se no PROUNI e no Programa de Bolsa Permanência do governo federal para ganhar um recurso (bônus) de trezentos reais por mês, tente tirar boas notas para ganhar uma bolsa integral, procure uma universidade que tenha o curso de engenharia e um programa de filantropia beneficiando aos estudantes que não tem renda e que ainda patrocina alojamento para estudante no campus universitário; ou ainda: inscreva-se também no programa do governo federal para financiar seu curso através do FIES numa faculdade particular...



“Se você tiver bastante perseverança, diria ainda, notas boas, poderá ganhar uma bolsa de estudos em uma universidade e fazer Engenharia Aeronáutica, uma das faculdades de engenharia mais “raras” do Brasil[5], sendo oferecida em pouquíssima universidades como o ITA (Instituto Técnico da aeronáutica), a USP de São Carlos e a UFMG (Federal de Minas Gerais); que se especialize em Engenharia Espacial: (Especialização da Engenharia Aeronáutica, onde o profissional atua projetando foguetes, satélites e naves para a exploração espacial). Aí, sim, quem sabe, alcançará o teu sonho de chegar à lua”.

Psicologia e a escolha profissional
A psicologia tem estudado o ser humano em seus mais variados contextos, tentando entender seus comportamentos e relações interpessoais, e vários autores desde o século passado, antes e depois de Freud tem contribuído para que haja uma variedade de interpretações e abordagens teóricas, e cada uma delas tenta explicar as mais variadas formas que nós seres humanos fazemos as nossas escolhas, seja ela simples ou complexa e, dentre elas, a nossa escolha profissional, que papel social devemos desempenhar.
A psicologia contemporânea tem se aperfeiçoado e investido na área de orientação profissional e ajudado, assim, na escolha da profissão em que o jovem obtenha sucesso; os testes vocacionais que se usam hoje com os jovens sobre a descoberta de quais áreas tem maior aptidão, vem sendo aperfeiçoados desde a II Guerra mundial, quando estes mesmos testes ajudavam a selecionar e classificar os jovens que eram inseridos nas forças armadas americana[6].
Além dos testes vocacionais há varias teorias dentro da psicologia que tentam explicar a melhor forma ou em que fase da vida o ser humano fará melhor a sua escolha profissional, a orientação profissional dependerá da abordagem teórica que o psicoterapeuta escolher para trabalhar na ajuda ao processo decisional de adolescentes e jovens. Mas fato é: é inevitável escolher e importante que se escolha bem.




[1] Artigo elaborado sob orientação do prof. Ms. Cleber Lizardo de Assis, disciplina Seminários Integrativos.
[2] Psicólogas - 1a turma de Psicologia das Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC/RO.
[3] BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional Abordagem sócio histórica. São Paulo: Cortez, 2002.
[4] CAMARGO, Lucila. Orientação Profissional uma experiência psicodramática. São Paulo: Agora, 2006.
[6] PIMENTA, Selma Garrido. Orientação Vocacional e Decisão, estudo Crítico da Situação no Brasil. São Paulo. Edições Loyola, 2001.




SOBRE ADOLESCÊNCIA, ARTE E A RECRIAÇÃO DA VIDA[1]
Aline dos Santos e Joana Cláudia Passarelli[2]




O que os une?
Coincidentemente estávamos na Praça Municipal de Cacoal em um dos nossos encontros para discussão de pontos dos nossos trabalhos de Faculdade, aonde vimos um grupo de adolescentes “alternativos” (diferentes dos vistos habitualmente, pois pareciam de diferentes estilos em um grupo só, (geralmente andam em grupos comuns, onde uns são bem parecidos com os outros): alguns vestiam o uniforme de uma Escola Estadual, outros sem, uns andando de skate, com diferentes estilos de vestimentas, uns com tênis all star coloridos, outros predominando a cor preta no vestir, uns vestidos do modo que podemos chamar de vestimentas “comuns”, alguns com spray de tinta na mão, outros com grafite, lápis e papel marrom.
Decidimos observá-los de longe como quem não quer nada. Então nos aproximamos para entender melhor o propósito deles, buscando que eles não percebessem. O que nos chamou atenção foi o fato deles parecerem de “tribos” diferentes, mas com algo que os unia. E gostaríamos de saber o quê e por quê.
No momento não havíamos pensado na elaboração desse texto, mas depois da “organização dos fatos” não tivemos dúvida de que encaixaria no pedido da proposta e intitulamos nossa primeira curiosidade em: O que os une?



Olhar o outro, perceber-se
            É claro! Passamos a observar mais os grupos que freqüentavam o local, não apenas nesse dia e nem apenas esse grupo, mas ao observar nos lembrávamos dos outros dias que estávamos lá e nos atentamos ao fato de já termos visto, talvez o mesmo grupo ou algum muito parecido no mesmo dia da semana, no mesmo local e com os mesmos materiais em mãos, mas a tensão do momento nos havia deixado insensíveis a observá-los com olhos clínicos ou até mesmo com coração, diante da tensão do encontro anterior.
            Isso nos fez perceber o quanto o sentimento influencia em tudo, em como percebemos, em como captamos, em como sentimos tudo em nós, em nós duas observadoras e nossa relação acadêmica, e como sentimos e deixamos de sentir as coisas à nossa volta diante dos conflitos. Vimos também como as atividades que nos fazem relaxar são diferentes, o que estressa uma pode vir a ser a descarga para outro, e isso estava nos prejudicando.
Passamos então a observar novos métodos para trabalhar melhor, tudo isso diante dessa observação do grupo, aparentemente tão diferentes, eles pareciam estar encontrando algo fora da “tribo” talvez para relaxar, ainda não sabíamos o que os unia, precisávamos descobrir. E Também descobrir o que unia a nossa dupla, como vamos trabalhar juntas a fim de um propósito em comum. Na verdade o que nos une a gente sabe. Precisamos descobrir o método de trabalho e esse grupo nos iluminou, essa observação foi nosso insight.
            Veio à tona: O que nos une? Como vamos trabalhar de maneira que tenhamos prazer?  - “Olha pra eles!” “Aparentemente tão diferentes, olha que harmonia!”. Serviu-nos de exemplo. Em volta havia mães com filhos, babás com crianças, e no nosso canto havia silêncio, silêncio geral, apenas nossos olhos contemplavam-se e a vontade de estar assim, assim como eles, entendendo-se, criando, sorrindo, pareciam tão satisfeitos.
Pássaros. tempo bom. O que nos falta? “Criação”. Uma gosta de estar solta, viajar, filosofar, aquietar, pensar, problematizar. Outra de correria, resolver em vez de problematizar, de barulho, de cidade grande, de movimento, do concreto e a outra do abstrato. O que fazer? Como unir isso tudo? E em volta começamos a observar. Até na observação as coisas eram observadas diferentes. Como vêm diferente, captam diferente se atentarem para diferentes coisas, olhares diferentes. Vamos unir isso tudo em vez de discutir como uma e a outra vê. Mas como? Vem o desespero pela harmonização para criação, o caos não está ao nosso favor neste momento. Decidimos calar e observar por uns minutos, tudo a volta depois ao interior. Estão eles além de tudo suprindo alguma falta, expressando algum tipo de sentimento? Tá claro.

Do nada à arte
            Acreditamos num mundo de criação, onde todos tenham seu espaço e principalmente compreensão, de si para si e de outrem. Autonomia, segurança nas relações grupais, confiança em si e nos outros, o que se perdeu. Encantar-se com seus próprios encantos. Conquistar dimensões, direções, pessoas e cantos.
            Um mundo cheio de cor, da maior penumbra à mais intensa luz, cheiro e sabor. Toque, olhar, sentidos. Sentido. O próprio sentido da vida. E há quem duvida que dentro de si haja chance, muito podados, podados ao limite da forma. Podados no amor, no romance.
            Uma forma de “terapia ocupacional” sem um profissional da área: Eles desabafam, conversam dividiam suas dores e suas conquistas pelo pouco que observamos e ouvimos diretamente; sabem o que acontece uns com os outros ao menos da maioria, alguns se calam, mas participam; que interessante seria, que fundamental seria o acompanhamento de um profissional em um encontro como esses. Imagine se sujeito “dominador” chega cheio de idéias “super revolucionárias” às vistas dos adolescentes, e o tal fulano seria um perverso, pessoa com transtorno de conduta e manipuladora?
A arte é uma das formas mais sublimes de descarga de pulsão, mas a necessidade de acompanhamento é gritante. O psicólogo seria uma parte ativa nesse processo de expressão, de tudo, direcionamento em todos os fatores.
Mencionamos um trecho de Lacan, citado por Mendlowicz (s/ano), pois achamos ser merecedor desse espaço, e garantimos que não fica chato, preenche o vazio que não existe nesse espaço exato. Ao falar de arte, religião e ciência:
São as formas sublimatórias características de nossa civilização e todas as três implicam uma relação com o vazio... a arte consiste em um modo de organização em torno desse vazio, a religião numa construção a fim de evitar o vazio e a ciência rejeita a presença da Coisa, já que pressupõe a possibilidade de um saber absoluto, mas em todas as formas de sublimação, o vazio será determinante, o vazio estará sempre no centro.[3]
Expressar-se sem saber o que está dizendo, com raiva, descarregar ir lá e despejar, “vomitar” um turbilhão de sentimentos, sem interpretar, sem se nortear é como castigar seu cachorro, sem que ele saiba que comeu o seu sapato e que isso é ruim. Muita inconsciência, podendo gerar mais revoltas e conflitos do que uma interpretação, um acolhimento, a compreensão; um apoio profissional ajudaria a desenrolar numa cabecinha tão confusa, a confusão nos deixa cegos, cegos de muitos sentimentos, cheios de muito vazio, nos dá fome, sede. “Você tem sede de que? Você tem fome de que?”

Um lugar para todos
Um dos adolescentes se aproxima e diz: “Oi, posso desenhar vocês?”. Sorrimos. Não acreditando que os grupos presentes se uniram em nome da arte, e era exatamente o que deveríamos estar fazendo. Nisso nós pensamos exatamente iguais. Não tivemos dúvidas em responder que sim.
            Perguntamos o que os unia, a resposta foi mágica: “Nos unimos pra nos divertir”. “Gostamos de desenhar, pintar, grafitar, meu pai não gosta que eu faça isso em casa, nem que eu exista. Ele me odeia. Venho aqui pra relaxar”. Apontou para outro menino e disse: “Ele não tem pai pra implicar com ele, sorte dele! E ele pinta meus desenhos”. Foi apontando e dizendo o que cada um do grupo gosta de fazer.  Nem todos fazem as mesmas coisas e percebemos que cada um completa o trabalho do outro, alguns gostam apenas de observar e fazer parte do encontro, outros posam para os desenhos, uns gostam de desenhar e pintar em skates, outro apenas de praticar o esporte. Não tem ao certo nem apontam o que exatamente vão fazer, mas se reúnem longe de casa e “dos amigos de sempre”, simplesmente, segundo ele: “pra relaxar”, principalmente depois da escola.
            Diz que a escola não abre espaço para o que eles querem, apenas pra monotonia e que estão a fim de criar e nunca souberam de um lugar que dessem esse espaço pra eles; sabia apenas onde faria aula de órgão, o que seu pai gostaria que ele fizesse, pra tocar na Igreja.
            E nos perguntamos: Onde nos encaixamos? o que te preenche? Há no mundo lugar para todo mundo, para tanta gente? Para toda forma de criatura e criação? Que vontade de montar um lugar assim: Onde caiba minha arte, a sua, a do Joaquim.  Onde nunca deixe de caber também o João, a Maria, a arte a alquimia. Voltaremos lá? Com certeza.




[1] [1] Artigo elaborado sob orientação do prof. Ms. Cleber Lizardo de Assis, disciplina Seminários Integrativos.
[2] Psicólogas - 1a turma de Psicologia das Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC/RO.


Crônica em [Cena]:
Gotas de Mim[1]
Suelem Renier Lacerda e Ademir da Costa[2]

Cabeça baixa, olhos fixos na paisagem da janela, uma das mãos suportando o rosto que, com o passar do tempo, ia se moldando às cenas que via todos os dias. Mas na maioria das vezes esse rosto a denunciava, o olhar refletia toda sua essência, as lágrimas, como ela mesma dizia, “na verdade... são gotas de mim”. Quando percebia que havia alguém ali, escondia então a face e como que num disfarce forçava-se a sorrir.
Ver alguém chorar pode ser considerada uma cena comum, uma criança chora, um jovem chora, um adulto chora algum dia na vida. Entretanto, nossas emoções são expressões que somente a gente sabe o que é. As lágrimas geralmente são sinalizadores de dor, de que algo não está bem, são nossa “válvula de escape”, e mais do que isso, reflete nossa sensibilidade. Mas como ser sensível nesse mundo moderno? Como perceber a sensibilidade do outro, numa sociedade onde o imperativo é o individualismo, onde emocionar é sinônimo de fraqueza? 
A busca pela independência financeira, pelo sucesso profissional, pelas conquistas materiais, tomou lugar da simplicidade, das antigas conversas, da importância do outro. Não importam mais as famílias, sua origem, sua cultura, mas sim o que você tem, o que você faz. Ao escolher uma profissão, por exemplo, a primeira pergunta que se faz geralmente é essa: mas afinal isso dá dinheiro?
Na correria do dia a dia, as preocupações se voltam ao cumprimento de horários, as rotinas de trabalho, pois afinal, “tempo é dinheiro”, não é o que dizem? E mesmo na tentativa de demonstrar que nos preocupamos com o outro, a pergunta freqüente que fazemos é essa: e aí tudo bem? E esperamos ouvir que está tudo bem! “pois estar bem” sinaliza para nós que podemos continuar como num semáforo apontando para o sinal verde. Já no contrário, significaria que precisaríamos “parar”, e isso nos incomoda! Pois parar para ouvir alguém, parar para ajudar alguém, “toma muito tempo”!
E assim vamos vivendo a vida, pessoas passam por nós todos os dias, e mal nos damos conta do que acontece ao nosso redor, são tantas “cenas”, tantas situações que deixamos de ver, porque insistimos em olhar para aquilo que apenas nos interessa. A impressão é que são apenas essas pessoas, estranhas a nós, que deixamos de ver. Mas não! Estamos esquecendo também das pessoas próximas e elas são “testemunhas” dos nossos comportamentos, nossas atitudes e muitas vezes, afetadas pelo nosso “egoísmo”, pela nossa insensibilidade.
Até mesmo aquelas pessoas que adoecem emocionalmente, na maioria das vezes, e necessitam de atendimento psicológico são vistas como “pessoas fracas”, ou até mesmo “pessoas que não tem Deus”; nossa sociedade ainda que, considerada “moderna” e “evoluída”, precisa “antes de tudo”, resgatar o afeto, a humanidade.
É urgente “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”, como diz José Saramago em seu livro “Ensaio sobre a cegueira”. Olhar para aquilo que os outros não enxergam! E na sociedade atual onde é extremamente valorizado aquilo que você tem e o que você faz, é muito prazeroso dizer que eu tenho amor pelo que faço, e eu faço Psicologia. E posso te ouvir.




[1] Crônica em homenagem à 1ª turma de Psicólogos/as formados na região centro-leste de Rondônia, em agosto/2011, pelas Faculdades Integradas de Cacoal. Elaborada na disciplina Seminários Integrativos, ministrada pelo prof Ms. Cleber Lizardo de Assis
[2] Psicóloga e Psicólogo, 1a turma de Psicologia das Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC/RO.


[Cena] Acadêmica/Social:



PROFESSOR DE PSICOLOGIA REALIZA TRABALHO EM ESCOLA PÚBLICA[1]
No início deste mês, a escola estadual Carlos Gomes recebeu o prof. Cleber Assis, do curso de Psicologia da UNESC, para novo encontro com os estudantes do ensino médio.
O grupo, formado por três turmas, não havia sido contemplado quando da realização do evento organizado pelo SENAC. Num clima de descontração provocado por músicas e dinâmicas, os alunos discutiram o tema "Adolescência: fase de conflitos", trazendo suas dúvidas e conflitos acerca de assuntos como desenvolvimento da adolescência, relacionamento com os pais, drogas, escolha profissional, relacionamentos afetivo-sexuais e outros.
"O sucesso das palestras junto ao público adolescente aponta a necessidade da organização de um projeto acadêmico junto às escolas do município, e é o que estudaremos para o futuro", avalia o prof. Cleber Assis.





Orientação para submissão de trabalhos: 1) Público-alvo: estudantes, pais, educadores; 2) Pede-se linguagem acessível, de contribuição psicossocial, mas sem o formato acadêmico clássico; 3) Priorizar temática com relevância social, a partir do campo psi em suas mais diversas teorias e abordagens; 4) Formato do artigo: média de 800 palavras, fonte garamond 12; 5)Metodologia “Cenas”: buscar a seqüência de “cenas” cotidiana, contemporânea, pática e outras (profiláticas/interventivas etc); 6) Além de artigos, poderão ser submetidos materiais inéditos de outros formatos: poesia, charges, crônicas, breves contos etc 7) Email para envio: kebelassis@yahoo.com.br




[Cenas] é um periódico de psicologia e psicanálise, de produção independente e pode ser reproduzido desde que citados a fonte e a autoria; objetiva a discussão das cenas humanas na atualidade, em perspectivas psi, multidisciplinares; tem por base conceitos como acessibilidade, sociabilidade e conhecimento com relevância social criador e editor: Cleber Lizardo de Assis edições anteriores para baixar e circular: http://cenasdecadadia.blogspot.com




Nenhum comentário:

Postar um comentário