terça-feira, 2 de outubro de 2012

Especial Ano 3, Nº 14 – Setembro/2012

O Relacional: Relações e Relacionamentos - ISSN 2176-8005


Editorial: Apresentamos o Cenas, edição 14-Especial 3º Ano, que traz reflexões sobre o tema do Relacional: relações e relacionamentos, fenômenos inevitavelmente humanos (e que nos faz humanos), mas que está em permanente tensão e problema: eu e o outro, eu no outro, eu x outro, eu pelo outro e infindáveis configurações que nos fazem seres sociais.

Diante do que adotamos como “pós-modernidade” e de seu problema crônico do laço social, o primeiro artigo, O precursor do espelho é o rosto da mãe, trata de nossas primeiras relações, das tenras idades e que marcam todas as outras fases do desenvolvimento psicossocial; o segundo artigo Ausência paterna e Pós-Modernidade, aborda a questão desse papel fragilizado atualmente e de sua relação com criança; o terceiro artigo, A Família e a conjugalidade sob júdice;  aborda o abalo nos relacionamentos familiares a partir do rompimento da conjugalidade e pelejas judiciais; o quarto artigo Terceira idade: cuidando deles agora e de nós no futuro, discute e questiona o modo que a sociedade atual se relaciona com aqueles sujeitos que os trouxe até aqui, as pessoas idosas; o quinto artigo Em briga de marido e mulher, a Psicologia “mete a colher”, busca um reflexão sobre as relações de gênero, em especial, marcadas por violência contra mulher; o sexto artigo, O império de automóvel, trata do processo subjetivacional envolvido na relação sociedade-máquina em torno do automóvel; o sétimo artigo, Em um relacionamento sério com a rede social, aborda o tema dos relacionamentos e afetos na era das redes sociais,  “linkando” amor e ciúmes; o oitavo artigo, Samba de uma nota só provoca a pensarmos em novas relações com a homoafetividade numa cultura predominantemente heterosexista; o nono artigo, Sobre o amor como forma de dominação, desafia-nos a pensar a relação amorosa e educativa entre pais e filhos como também da ordem da opressão.

Com essa edição comemorativa de 3 anos do Cenas, reafirmamos que a Psicologia como uma ciência humana e social, em especial, um saber do relacional, seja estudando e intervindo nas relações humanas, seja se constituindo a partir das próprias interações com outros discursos.

Boa leitura e boas cenas!
Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor.


ARTIGOS:
O precursor do espelho é o rosto da mãe, Analine Ferreira do Amaral
Ausência paterna e Pós-Modernidade, Edilsa Regina de Carvalho
A Família e a conjugalidade sob júdice, Wilson Plaster
Terceira idade: cuidando deles agora e de nós no futuro, Milca Bragança de Carvalho e Sufia Ângela Siqueira Tomaz Nascimento
Em briga de marido e mulher, a Psicologia ‘mete a colher’, Vanessa Olvieira Gaia, Gleiciane Benfica Fernandes e Cleber Lizardo de Assis
O império do automóvel, Leonardo Cappi Manzini
Em um relacionamento sério com a rede social, Debora Fabiano
Samba de uma nota só, Marcelo Borges
Sobre o amor como forma de dominação, Fabio Belo
EXTENSÃO em [Cena]: Projeto de Extensão “Mulher Viva” em Simpósio sobre a “Lei Maria da Penha




domingo, 2 de setembro de 2012

Ano 3, Nº 13 – Agosto/2012

Dor, Desamparo e Finitude - ISSN 2176-8005

Editorial: Apresentamos o Cenas, edição 13, que traz reflexões sobre a discussão de temas como a dor, o desamparo e a finitude humanas pela Psicologia e que faz memória de três discentes do curso de Psicologia que faleceram: Pâmela Silva, Alexsandra Rodrigues e Juliana Diniz. 

O primeiro artigo “Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido” trata das reações humanas diante do desconhecido, especialmente abordado por uma nova religião, havendo por um lado, preconceitos e por outro, uma busca de sentido; o segundo artigo “Algo sobre Psicologia diante da Morte” aborda a questão do enfrentamento da dor e da morte em contexto hospitalar, mas que serve de metáfora para se pensar um posicionamento diante desses fenômenos no cotidiano; finalmente, o artigo “Perdas e reencontros, do objeto e de si” faz uma reflexão sobre as perdas como fenômenos existenciais inevitáveis e elaboráveis. 

Os artigos tomam por base, diversos referenciais teóricos em Psicologia e tem em comum, o desafio de falar e propor possibilidades de elaboração de elementos que marcam o horizonte humano, a dor, o desamparo e a finitude, para os quais buscamos as mais diversas estratégias de resolução: viver é driblar a finitude. 

Boa leitura e boas cenas! 

Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor.


Artigos:
Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido, Deyse Ferraciolli e Laís Lins
Algo sobre Psicologia diante da Morte, Juliana Maria Gomes e Leni de Oliveira Freitas Zentarski
Perdas e reencontros, do objeto e de si, Patrícia Ribeiro Furtunato




terça-feira, 29 de maio de 2012

Ano 3, Nº 12 – Maio/2012

Sobre mal-estar, redes virtuais e derivas existenciais
 Cleber Lizardo de Assis [1]


[Fenômenos: Internet e Redes sociais]
Não é de hoje que a World Wide Web ou simplesmente “internet’ faz sucesso em nossas vidas; essa invenção humana é uma das maiores, senão a maior invenção no campo das comunicações, sociabilidades e intercâmbio cultural da nossa civilização.
Produto e produtora da globalização e da contemporaneidade, a “net” revoluciona as nossas vidas em todos os sentidos e modos, criando uma zona “virtureal”[2] em que realidade e virtualidade, tempo e espaço, objetivo e subjetivo, longe e perto, bem como outras categorias dissolvem suas demarcações.

É inegável, irreversível e imprevisível o que experimentaremos com esse dispositivo. E espero não estar sendo ainda futurista.

Ironicamente, em “associação livre”, lembro de minha estranheza frente ao jurássico computador na década de 90 e de minha “resistência’ em abandonar minhas cartas à tinta e meus textos datilografados na velha Remington. Tão pouco tempo e já constato como obsoleto tais práticas e equipamentos, e o pior, talvez, esteja ficando velho com tudo isso.
Obviamente, hoje utilizo e me beneficio da rede, sem saber por onde anda a nostálgica máquina estereotipada e as cartas que cederam lugar aos e-mails, mas permanece ainda a necessidade de comunicar.


[“Seguidores” do quê?[
Todo esse preâmbulo nos leva a comentar sobre alguns sub-fenômenos relacionados que quero focar nesta seção do artigo e que está relacionado a outra parafernália: o twitter.


Primeiramente, as tais redes sociais foram evoluindo (e me corrijam e complementem os experts da área) do Orkut até o seu similar, concorrente e agregador facebook. 

Engraçado que já surge uma certa classificação sócio-econômica nas/das redes sociais, de forma que Orkut se torna a rede da periferia e de pobres, enquanto o Facebook emerge no imaginário dos usuários, como a rede da classe econômica e cultural superior. Modismo ou questões classistas à parte, seguimos nossa reflexão.

Para constar: soube do Orkut ainda antes de chegar ao Brasil e na época não aderi, por não ver na novidade o brilhante mundo novo anunciado. O mesmo serve para o seu upgrade pop, “face”, que ainda não recebeu minha face também. Obviamente, sem demonizar tais dispositivos, não descarto o seu uso no futuro, afinal, parafraseando Descartes, “sem rede, logo não existo”.
Dentro da lógica da comunicação e interação social instantâneos, eis que nasce o twitter, um micro-blog, um tipo de papo rápido e superficial, ao vivo, de textos entre pessoas e usuários da web.
E aqui, mora outra de minhas questões: cria-se uma nova categoria de sujeito (ou de assujeitado), o “seguidor”. E eis minha pergunta: seguidor de quê?
Daí, forja-se umas expressões hilárias: “fulano tem 1.000.000 de seguidores”, bertlano segue ciclano” e por ai vai uma nova mania mundial, com maníacos por comunicação, na maioria das vezes, vazia e meramente verborrágica. 
]“Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada”[

Temo que esteja ficando de fato velho do alto e das felizes quatro décadas vividas, talvez numa primeira crise de geração que compõe a entrada na “segunda idade”, mas espero não estar ficando amargo, retrógrado e anti-social.

Mas alguém explique a esse leigo: quem é esse a quem se segue? O que tal “seguível” tem a oferecer aos seus seguidores? Afinal, quem são os seguidores e por que o seguem?
Mais uma vez, minha verve romântica-nostálgica: lembro que na adolescência fui um leitor-seguidor de Sidarta Gautama (O Buda), Gandhi e Cristo, além de Nietzsche, Marx e Freud. Detalhe: eles não tinham twitter e micro-textos fofocáveis, pelo contrário, produziram elaborações densas, profundas e consistentes.
Mas, enfim, os tempos mudaram e temos novos “modelos”, avatares, signos e ícones a celebrar (cele-babar, tele-babás), devendo nos atualizar e seguir a corrente, caso contrário seria como não existíssemos na efêmera realidade ciber.
“Acabei de comprar uma Louis Vuitton baratinha nos Jardins”, “Nego que esteja namorando com....”, “A festa terá bebida free a noite toda” (....), “estou no banheiro”... Eis o teor das mensagens que os ‘fiéis’ seguidores acatam a cada segundo de seus ‘líderes’.
Obviamente, serei contestado por usuários que justificam tais usos mesmo superficiais, dado sua facilitação do processo de uma comunicação rápida e favorável a práticas do cotidiano; outros defenderão os usos diferenciados e nobres que tal mídia favorece. E, obviamente, respondo que é necessário separar o ‘joio do trigo”.
O “joio” ao qual me refiro é aquele do ensimesmamento comunicacional, do “dizer sem dizer”, do “falar vazio de sentido”, numa verborragia sem limites e da ordem da desmesura, do blá-blá-blá maníaco e eufórico.




[Você tem fome de falar e ouvir o quê?}

Aliás, euforia e efemeridade são como marcas de nosso tempo, incluindo o modo comunicacional e relacional, como a tônica do que tem se denominado ‘pós-modernidade”: não vale o dizer, mas a mera performatividade, o berrar nas redes em busca de escuta, a formação do pacto exibicionismo com seu par voyerista, o prevalecimento da imagem sobre a palavra.

Esse excesso pseudo-comunicacional já está associado à uma “nova patologia” criada e ligada ao terreno das compulsões e ao “transtorno do impulso”, com sujeito chamados adictos como de drogas e que já se organizam em “viciados em internet anônimos” e “ciberviciados”, com uma industria farmacológica-psiquiátrica já de olhos cifráveis nesse filão de novos doentes-clientes[3].

O cerne de tudo isso: criamos toda uma parafernália tecnológica-comunicacional, mas ainda tropeçamos na comunicação; Estamos fracassando nas relações reais e idealizamos uma no horizonte virtual; Tentamos, em vão, superar nosso mal-estar e desamparo, à deriva no mar revolto da web.



[1] Psicólogo, Mestre em Psicologia/PUC MG; Doutorando em Psicologia/USAL-AR; Docente das Faculdades Integradas de Cacoal-RO; Autor dos livros “A Clínica e o Sagrado”  e  “Culpa e Desculpa: O Sentimento de Culpa e a Pós-Modernidade”. 

[2] Título de um poema de Diva Paternostro. 

[3] Diversos grupos de estudos e tratamentos tem se constituído no Brasil, à semelhança dos EUA, grupos de estudos e tratamento da tal patologia: http://www.dependenciadeinternet.com.br/; http://amiti.com.br/.