Dor, Desamparo e Finitude - ISSN 2176-8005
Editorial: Apresentamos
o Cenas, edição 13, que traz reflexões sobre a discussão de temas como a dor, o desamparo e a finitude humanas
pela Psicologia e que faz memória de três
discentes do curso de Psicologia que faleceram: Pâmela Silva, Alexsandra
Rodrigues e Juliana Diniz.
Os artigos tomam por base, diversos referenciais
teóricos em Psicologia e tem em comum, o desafio de falar e propor
possibilidades de elaboração de elementos que marcam o horizonte humano, a dor,
o desamparo e a finitude, para os quais buscamos as mais diversas estratégias
de resolução: viver é driblar a finitude.
Boa leitura e boas cenas!
Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor.
Artigos:
Algo sobre Psicologia diante da Morte, Juliana Maria
Gomes e Leni de Oliveira Freitas Zentarski
Perdas e reencontros, do objeto e de si, Patrícia Ribeiro Furtunato
Perdas e reencontros, do objeto e de si, Patrícia Ribeiro Furtunato
Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido
Deyse
Ferraciolli e Laís Lins [1]
O desconhecido e proibido
Tudo que é tido como proibido, oculto, feito por de
trás dos olhos de todos intriga o ser humano, que automaticamente os rotulam
como sendo algo ruim, ou criam alguma teorização vulgar para dar conta do ainda
inexplicado.
Isso pode
ser observado nas religiões ayahuasqueiras,
onde tanto o processo de colheita das folhas e do cipó e confecção do chá,
quanto todo o ritual de beberragem é sigiloso aos não membros da religião,
ocasionando assim a banalização do real significado do culto e do valor
espiritual que o chá possui.
Um
exemplo pertinente ao assunto são os famosos segredos e fofocas presentes em
qualquer ambiente do mundo. São cheios de mistérios onde, quem realmente
deveria saber, sempre é o último. Isso, de certa forma, causa ansiedade,
curiosidade e angústia, pois, afinal, quem não gosta de estar por dentro de
tudo? De dominar o ‘desconhecido’ nem que seja através de um sentido qualquer,
mesmo expresso na mais simples expressão verbal?
O intrigante “oculto”
Ao
escolhermos o tema para elaborar o projeto de pesquisa[2] e, posteriormente, o Trabalho
de Conclusão de Curso, nos deparamos com dúvidas e questionamentos acerca do
que era essa palavra tão estranha, o “oculto”. Fomos advertidas e alertadas que
o assunto não teria muito referencial teórico, e ainda que poderíamos ter
problemas para conseguir os sujeitos para a aplicação da pesquisa.
Uma
vez estando apoiadas por toda uma revisão bibliográfica considerável, e
buscando produzir conhecimento em torno do ‘desconhecido’, percebemos que não
era mais o termo ayahuasca que estava
sendo o centro das dúvidas, mas sim todo o nosso imaginário em torno do ritual
e dos efeitos “psicodélicos” que o mesmo traz consigo.
A ayahuasca e o preconceito
Para um breve conhecimento, ayahuasca é um produto vegetal psicoativo, resultante do cozimento
do cipó Banisteriopsis caapi e das
folhas do arbusto Psichotria Viridis. Provoca
estados alterados de consciência que levam a fortes alucinações em toda a forma
de percepção, sendo comumente utilizada em rituais de religiões tais como Santo
Daime e União do Vegetal, religiões popularmente conhecidas como “seitas do
chazinho”[3]. Ai esta o centro da
questão, o que acontece com as pessoas nesses rituais tão protegidos dos não
adeptos?
Voltamos
ao chá. É claro que julgamos e criamos pré-conceitos de tudo aquilo que não
podemos ter acesso, e a coisa se intensifica quando o assunto está ligado à
religião, ritual, alteração da consciência e supostos efeitos psicodélicos.
Como
explicou Valvim M. Dutra em seu livro Renasce
Brasil[4],
existe um preconceito bom e outro ruim: o preconceito ruim é aquele que termina em injustiça por causa
somente da aparência e da antipatia. O preconceito
bom busca a prudência e é embasado nas estatísticas reais, ou no instinto
humano de proteção.
Com isso, sabemos que é muito difícil delimitar até
onde vai cada um e por isso, a liberdade de interpretação pessoal a respeito do
que acontece em uma religião que consome o chá de ayahuasca deve ser respeitada. Já diziam os brasileiros que
“religião e futebol não se discute”. No entanto, vale ressaltar a diferença
entre discutir um assunto e respeitar a opinião alheia. Devemos discutir, sim e
com respeito.
Talvez
o chá provoque esses dois preconceitos. O preconceito ruim se dá quando o chá é
julgado como uma droga qualquer, uma substância que possui propriedades
psicoativas que serve somente para alterar a consciência e causar alucinações,
assemelhando-se com o ácido lisérgico, ou seja, o uso pelo simples uso da
substância.
Mesmo
com a transferência do consumo para centros urbanos, na maioria das vezes, o
chá está ligado à religião com toda a dinâmica envolvida. Na segunda-feira,
oito (8) de novembro de 2010, foi publicada no Diário Oficial da União a resolução do Conselho Nacional Antidrogas
(CONAD) que reconhece como prática legal o uso da ayahuasca para fins religiosos[5]. Ela elimina a suspeita de
que a bebida seria alucinógena e esse preconceito bom foi inspirador para a
criação de uma equipe multidisciplinar que fará levantamento e acompanhamento
do uso religioso da ayahuasca e das
pesquisas para seu uso terapêutico.
Desmistificação do oculto
É visível que muitas coisas podem ser
produzidas por meio do tal preconceito bom. O correto é que todas as opiniões
sejam valorizadas e usadas como origem de questionamentos.
Fica
a dica, então, para andar sempre em busca do conhecimento de tudo aquilo que
causa algum desconforto, objetivando uma visão ampla do assunto, usando como
fonte dados estatísticos e/ou qualitativos do mundo científico, informações
atualizadas e seguras da mídia e das políticas públicas, ideias dos
profissionais envolvidos e a própria experiência de vida articulada a tudo
isso, para melhor compreender a condição humana em contextos similares.
A
beberagem de ayahuasca ainda é um
assunto pouco conhecido pela população em geral, provocando rejeição e até
preconceito, limitando a sua compreensão.
Encontramos
com a pesquisa a relação entre o consumo do chá dentro das religiões e o
desenvolvimento de categorias como: Tratamento/Prevenção da dependência
química; Sentido de vida; Crescimento pessoal; Relações sociais positivas;
Relações de amizades e trabalhos e Relações familiares; Aprimoramento da
Cognição; Autoconhecimento; Autonomia; Religiosidade e Domínio de si.
Essas
categorias foram defendidas como mudanças em decorrência do consumo do chá e
percebidas pelos sujeitos como melhorias na sua qualidade de vida.
[1] Psicólogas formadas
pelas Faculdades Integradas de Cacoal-RO.
[2] A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a dezembro de 2011,
dentro do Grupo de Pesquisa Estudos Psicossociais Regionais/UNESC-RO, sob
coordenação do prof Ms Cleber Lizardo de Assis.
[3]
Cremasco,
M.V.F, Ribeiro, C. S. , Eler, J. F. T. A experiência com ayahuasca sob a perspectiva da psicopatologia fundamental. IV
Encontro Psi: Parapsicologia & Psicologia, julho de 2008, Curitiba – PR.
[4] Dutra M. Valvim. Renasce Brasil. Projeto
Renasce Brasil. Edição independente, 2ª edição, 2005. Vitória – ES.
[5] Diário Oficial da União, Edição 214, Seção 1, 08/11/2004, pg. 8. Disponível em: http://www.mestreirineu.org/resolucao_4_conad.htm
Algo sobre
Psicologia diante da Morte
Juliana Maria
Gomes e Leni de Oliveira Freitas Zentarski[1]
Deparando com a dor no leito hospitalar
Em mais um dos dias quentes e escuros de estágio no
hospital, estava coletando os corriqueiros e surpreendentes dados dos
prontuários dos pacientes no posto 1, como responsável pelos casos clínicos,
quando me deparo com o prontuário de número 3/14, cujas letras escritas de
forma apressadas e “caprichadas” confirmariam a famosa “escrita de médico”.
Mas claro que gostaria de saber o nome daquela
pessoa... sim, entendi, é João. – “Enfermeira, a senhora poderia me ajudar a
entender o que aconteceu com este paciente?” Ela respondeu: “sim, parece-me que ele teve um AVC, não vai
sobreviver”. Para aquela enfermeira treinada e acostumada com a morte, a perda
era de apenas “mais um”, ou menos um, o do leito 3/14 e não o senhor João, pai
de 6 filhos, de 78 anos bem vividos.
Pensei “irei visitá-lo!” E na minha angústia de
estagiária inexperiente me dirigi até a enfermaria e lá estava o senhor João
desfalecido e amparado por uma filha que, com suas mãos trêmulas e cansadas,
mantinha o respirador no rosto do pai que não mais respirava, num semblante
cansado, cabeça baixa e corpo debruçado quase que cobrindo o corpo, que quase
ia, sabe Deus para onde.
Palavras? Silêncio?
A filha parecia esperar de mim algo como aferir sua
pressão ou controlar as batidas do coração de seu pai. Dirigi-me a ela e me
apresentei, não olhou para mim, pois isso era difícil sem que chorasse; lhe
perguntei como ela estava, ao que me respondeu: “Ele está morto, teve morte
cerebral, apenas seu coração bate ainda”, e as lágrimas desceram discretamente.
Esta é uma cena comum?! Sim, é, ninguém está
totalmente preparado para a dor, ali aquela filha só estava preocupada com o
coração de seu pai que ainda batia, mas em momento algum preocupada consigo
mesma: será que havia uma “psicologia da
dor, da morte, da tristeza” dentro dela, por estar aparentemente tão contida e
serena sem se desesperar?
Eram dias e noites no hospital, uma vigília
constante, pois ela era aquela que a psicologia hospitalar nos diz ser a
“cuidadora eleita”, e como nos aponta Teixeira (2008), o cuidador/acompanhante
vivencia uma angústia em participar com seu ente de sua dor, de seu medo,
esperando o diagnóstico de sua doença, sendo que, muitas vezes, o cuidador deve
ainda tomar decisões que podem até comprometer a vida do paciente.
Isto nos coloca “de cara” com aquilo que ouvimos
nos bancos da faculdade, mas vem a dúvida a respeito de como colocar em prática
o apoio profissional diante da morte, nesse caso, de um dos seres que aquela
filha mais amava e que não “estava” mais ali. Qual seria o conforto? Apoio?
Amparo? Ou Silêncio...?
O preparo: Psicologia não apenas para psicólogos
Estamos nos preparando para a Psicologia
Hospitalar? Todo este mundo de significados subjetivos, um duelo de emoções sem
fim, devemos manter a neutralidade mas, por favor, não fiquemos desumanos, não
podemos virar “robôs” que tratam a dor “como leito 3/14” e, como diria a minha
supervisora “A Psicologia está entrando no hospital, vamos fazer a diferença!”.
(Ana Nóbrega).
Segundo Angerami-Camon e Chiattone et al. (2010) a Psicologia Hospitalar
busca o alívio emocional de pacientes e de seus familiares e, muitas vezes, a
ajuda deste profissional implica uma assistência maior no que tange à angústia
e à ansiedade que se fazem presentes. Infelizmente os profissionais da saúde
não conhecem este trabalho, pois ainda é um campo novo, porém riquíssimo e,
como destaca Simonetti (2009), “A medicina quer esvaziar o paciente de sua
subjetividade, e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma
subjetividade, acreditando que ‘mais fácil que secar o mar, é aprender a
navegar...’”.
Trabalhar com a dor é muito frustrante, mas
necessário. A filha do senhor João precisava de silêncio e uma companhia para
seu silêncio, permaneci por uns instantes ao seu lado, no entanto, esta era a
maneira dela, pois já estava em um doloroso período de aceitação; no entanto, o
que sempre vemos são pessoas chorando, angustiadas, com raiva, negando tudo
aquilo, perambulando pelos corredores e querendo entender certas coisas, sem
saber o que está acontecendo, sem nem mesmo saber qual o diagnóstico do seu familiar
ou o próprio.
E é com este intuito que a psicologia hospitalar,
de acordo com Simonetti (2009), também se ocupa das relações, objetivando a
facilitação dos relacionamentos entre paciente, família e equipe. Deve existir
certa sincronia, pois de acordo com Angerami-Camon e Chiattone et al. (2010), não se deve esperar que a família tenha uma
estrutura perfeita e capaz de entender as alterações surgidas em face da
situação de adoecimento. A família fica em estado de vulnerabilidade juntamente
com o paciente, participando junto com ele das diferentes e constantes fases do
adoecimento que, às vezes, culmina na dor da perda.
A equipe hospitalar, por sua vez, pode não estar
preparada para este turbilhão de emoções e “se congela”, preferindo se manter
alheia a tanta dor, e embora esteja preparada para a manutenção da vida, custe
o que custar, não parece ocorrer o mesmo com a qualidade desta “semi vida” e a
perda... daí, uma pura negação.
Olhos de águia
Humanização! Obrigada Deus por me colocar neste
universo de emoções e subjetividade...,estou aprendendo a ver com a Psicologia!
E como diria Kubler-Ross (2008): “A equipe
hospitalar, médicos enfermeiras, os assistentes sociais, os capelães não sabem
o que perdem evitando estes pacientes. Se estamos interessados no comportamento
humano, nas adaptações e nas defesas de que os seres humanos lançam mão para
enfrentar essas dificuldades, não existe melhor lugar para aprender.”
[1] Psicólogas formadas pelas Faculdades Integradas de Cacoal-UNESC-RO.
REFERÊNCIAS
ANGERAMI-CAMON, V. A., CHIATTONE, H. B. C. (et al.). E a Psicologia entrou no hospital.
São Paulo: Cengage Learning, 2010.
KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 8 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2008.
SIMONETTI, A. Manual de
psicologia hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2009.
TEIXEIRA, V. C. M. Acompanhantes hospitalizados. Psicópio:
revista virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde (online), 2008.
Disponível em http://susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n7_40.pdf. Acesso em
28/8/2011.
Perdas e reencontros,
do objeto e de si
Patrícia Ribeiro Furtunato [1]
O
Dente-de-leão
Um dia desses, observei aquela florzinha que a gente assoprava
quando criança, e que chamávamos de dente-de-leão, mas que também pode ser
considerada erva daninha ou simplesmente “matinho”. E me pus a pensar sobre a
vida: No quanto nós seres humanos que, diante das constantes intempéries da
vida, parecemos com essa singela plantinha. Intrigante pensar que, quando
sopramos o que já nem é uma flor, mas as sementes já secas, elas voam pelo ar
conforme a direção do vento. Caem em um lugar qualquer, perto ou distante, e
recomeçam o seu ciclo de vida, se adaptando ao seu novo ambiente, à sua nova
vida.
Entretanto, se cada uma
daquelas sementes cair num lugar de solo fértil,
irá nascer de novo, com vigor. As sementes vão florescer, reviver e gerar mais
vida.
O dente-de-leão de cada dia
Pensando no ciclo de
vida do dente-de-leão, concluí que somos assim também: depois de nos sentirmos
a mais bela flor, secamos ali, tentando parar o tempo, tentando deter a beleza
dos momentos vividos; tentando não deixar que nada mude. Aí vem a força do
vento, da vida e sopra a gente para longe. Aí vem a angústia que as mudanças
causam. Desmancha-se a nossa flor e manda-se tudo pelos ares, causando a
sensação de que a vida acabou e, como ela, aqueles momentos tão amados,
acabou-se a perfeição.
Todos nós, no percurso das nossas vidas, perdemos
algo ou alguém, que gostamos muito. A vida é
feita de afetos, de relacionamentos, de amores, enfim, de relações que, por
vezes, se iniciam despercebidamente, e com, o tempo e/ou a intensidade,
pode determinar a força e a solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem
sempre é possível manter esses objetos de afeto
próximos. Nem sempre manter esse relacionamento depende só de nós. Às
vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou morrem, deixando assim um espaço
vazio, que nem sempre se está preparado para aceitar.
A “morte” está
presente nas separações e rompimentos, seja em um relacionamento afetivo, uma
amizade, relacionada às perdas materiais, financeiras, de status e poder ou até mesmo da moral e confiança estabelecidas.
“A perda do
[objeto] amado é uma ruptura não fora, mas dentro de mim.” J. –D. Násio
Em seu ensaio Luto e Melancolia, Freud caracteriza o
luto como um estado depressivo que não deve ser tratado como uma patologia, mas
como uma fase de inibição do Ego que, de modo geral, é uma reação à perda de um
ente querido, objeto libidinoso, ou de alguma idéia pré-estabelecida associada a este ente, o que é de caráter
particularmente doloroso até que, em um dado período, o Ego fique outra vez
livre e desinibido. Esta fase é marcada pela ausência,ou a já total
inexistência do objeto amado, do processo de retirada de toda libido de suas
ligações com o mesmo e o deslocamento para outro objeto.
Durante o decorrer da vida, nos encontramos diante da morte das formas
mais diversas, a morte física quanto as mortes
simbólicas imputadas na conta do dia-a-dia. A partir do nascimento, inicia-se o
processo de inúmeras e sucessivas perdas,
como o rompimento da vida intra-uterina ao nascermos, o corte do cordão
umbilical, o desmame, as perdas relacionadas ao encerramento da infância, aos
amores da adolescência, as dificuldades da vida adulta e a eminência da morte
que se anuncia na velhice, perdas no
trabalho ou do trabalho, divórcio, entre outras, que ocorrem durante todo o
processo do ciclo vital. (KOVÁCS,
1992 apud FONSECA, 2009)
Perder (-se) e reencontrar (-se): um exercício
freqüente
Na vida estamos
sempre lidando com perdas. Algumas são naturais e orgânicas, enquanto outras
são extremamente significativas e dolorosas, pois representam uma grande
ausência, simbólica ou real. Esta dor, psíquica, pode ser arrasadora, perdurar
por muito tempo ou apresentar-se momentaneamente. Lidar com ela requer a
reorganização de nossos “objetos de amor”, mudança de nossos paradigmas e
aceitação da nossa própria vulnerabilidade. Algumas perdas poderemos elaborar
com maior facilidade, como a reparação oferecida por uma noite de sono bem
dormida, enquanto em outras temos de reparar nosso Ego e trabalhá-lo para o seu
fortalecimento até que esteja livre para se vincular a novos objetos.
Lidar com as perdas
pode ser conflitante, mas é inevitável encará-las. Não há como ignorá-las,
deixá-las fora de nossos projetos de vida, pois as perdas nos acompanham a todo
instante e em cada fase da vida. O dente-de-leão em todo o seu ciclo de vida,
não sabe ao certo o “seu dia de amanhã”, quando alguém vai arrancá-lo e soprá-lo
ao vento. Mas tem o seu auge exatamente no momento em que se perde ao sabor do
vento. Nesta ocasião tem sua maior oportunidade de encontrar outro rumo para a
sua existência.
Nós também, a cada
segundo nossas células estão morrendo e se renovando, nossa memória aos poucos
se esvaindo e recebendo novas informações e, em nossas relações, temos perdas e
ganhos emocionais. Enfim, tudo é um fluxo constante, perdas e ganhos, chegadas
e partidas, encontros e despedidas. Não podemos nos esquivar disso. Assim, com
uma experiência dolorosa pode vir uma experiência de vida no sentido de
maturidade, de modo a extrair dela algum ganho.
Assim somos nós:
morremos e nascemos mil vezes com os percalços dos caminhos da vida, até que um
dia aprendemos que a dor de sentir tudo seco e destruído é somente uma pausa.
Haverá vida de novo, é só esperar uma chuva boa. A espera pela chuva é o nosso luto por coisas ou pessoas que se foram.
[1] Graduanda em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal, UNESC-RO
REFERÊNCIAS:
FREUD, S.; Obras Completas: Luto
e Melancolia. Vol. XIV Ed. Imago. 1º Edição Standard Brasileira; 1974; São
Paulo, SP.
FONSECA, C. O. S. O Luto Vivenciado pelos
Irmãos dos Pacientes com Câncer na Perspectiva da Psicanálise. Revista
Iluminart do IFSP, Volume 1, número 2,
Sertãozinho; Agosto/2009, ISSN: 1984 - 8625
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