domingo, 2 de setembro de 2012

Ano 3, Nº 13 – Agosto/2012

Dor, Desamparo e Finitude - ISSN 2176-8005

Editorial: Apresentamos o Cenas, edição 13, que traz reflexões sobre a discussão de temas como a dor, o desamparo e a finitude humanas pela Psicologia e que faz memória de três discentes do curso de Psicologia que faleceram: Pâmela Silva, Alexsandra Rodrigues e Juliana Diniz. 

O primeiro artigo “Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido” trata das reações humanas diante do desconhecido, especialmente abordado por uma nova religião, havendo por um lado, preconceitos e por outro, uma busca de sentido; o segundo artigo “Algo sobre Psicologia diante da Morte” aborda a questão do enfrentamento da dor e da morte em contexto hospitalar, mas que serve de metáfora para se pensar um posicionamento diante desses fenômenos no cotidiano; finalmente, o artigo “Perdas e reencontros, do objeto e de si” faz uma reflexão sobre as perdas como fenômenos existenciais inevitáveis e elaboráveis. 

Os artigos tomam por base, diversos referenciais teóricos em Psicologia e tem em comum, o desafio de falar e propor possibilidades de elaboração de elementos que marcam o horizonte humano, a dor, o desamparo e a finitude, para os quais buscamos as mais diversas estratégias de resolução: viver é driblar a finitude. 

Boa leitura e boas cenas! 

Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor.


Artigos:
Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido, Deyse Ferraciolli e Laís Lins
Algo sobre Psicologia diante da Morte, Juliana Maria Gomes e Leni de Oliveira Freitas Zentarski
Perdas e reencontros, do objeto e de si, Patrícia Ribeiro Furtunato







Ayahuasca: A Psicologia rumo ao desconhecido
Deyse Ferraciolli e Laís Lins [1]

O desconhecido e proibido
Tudo que é tido como proibido, oculto, feito por de trás dos olhos de todos intriga o ser humano, que automaticamente os rotulam como sendo algo ruim, ou criam alguma teorização vulgar para dar conta do ainda inexplicado.
 Isso pode ser observado nas religiões ayahuasqueiras, onde tanto o processo de colheita das folhas e do cipó e confecção do chá, quanto todo o ritual de beberragem é sigiloso aos não membros da religião, ocasionando assim a banalização do real significado do culto e do valor espiritual que o chá possui.
            Um exemplo pertinente ao assunto são os famosos segredos e fofocas presentes em qualquer ambiente do mundo. São cheios de mistérios onde, quem realmente deveria saber, sempre é o último. Isso, de certa forma, causa ansiedade, curiosidade e angústia, pois, afinal, quem não gosta de estar por dentro de tudo? De dominar o ‘desconhecido’ nem que seja através de um sentido qualquer, mesmo expresso na mais simples expressão verbal?

O intrigante “oculto”
            Ao escolhermos o tema para elaborar o projeto de pesquisa[2] e, posteriormente, o Trabalho de Conclusão de Curso, nos deparamos com dúvidas e questionamentos acerca do que era essa palavra tão estranha, o “oculto”. Fomos advertidas e alertadas que o assunto não teria muito referencial teórico, e ainda que poderíamos ter problemas para conseguir os sujeitos para a aplicação da pesquisa.
            Uma vez estando apoiadas por toda uma revisão bibliográfica considerável, e buscando produzir conhecimento em torno do ‘desconhecido’, percebemos que não era mais o termo ayahuasca que estava sendo o centro das dúvidas, mas sim todo o nosso imaginário em torno do ritual e dos efeitos “psicodélicos” que o mesmo traz consigo.


A ayahuasca e o preconceito
            Para um breve conhecimento, ayahuasca é um produto vegetal psicoativo, resultante do cozimento do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas do arbusto Psichotria Viridis. Provoca estados alterados de consciência que levam a fortes alucinações em toda a forma de percepção, sendo comumente utilizada em rituais de religiões tais como Santo Daime e União do Vegetal, religiões popularmente conhecidas como “seitas do chazinho”[3]. Ai esta o centro da questão, o que acontece com as pessoas nesses rituais tão protegidos dos não adeptos?
            Voltamos ao chá. É claro que julgamos e criamos pré-conceitos de tudo aquilo que não podemos ter acesso, e a coisa se intensifica quando o assunto está ligado à religião, ritual, alteração da consciência e supostos efeitos psicodélicos.
            Como explicou Valvim M. Dutra em seu livro Renasce Brasil[4], existe um preconceito bom e outro ruim: o preconceito ruim é aquele que termina em injustiça por causa somente da aparência e da antipatia. O preconceito bom busca a prudência e é embasado nas estatísticas reais, ou no instinto humano de proteção.
Com isso, sabemos que é muito difícil delimitar até onde vai cada um e por isso, a liberdade de interpretação pessoal a respeito do que acontece em uma religião que consome o chá de ayahuasca deve ser respeitada. Já diziam os brasileiros que “religião e futebol não se discute”. No entanto, vale ressaltar a diferença entre discutir um assunto e respeitar a opinião alheia. Devemos discutir, sim e com respeito.
            Talvez o chá provoque esses dois preconceitos. O preconceito ruim se dá quando o chá é julgado como uma droga qualquer, uma substância que possui propriedades psicoativas que serve somente para alterar a consciência e causar alucinações, assemelhando-se com o ácido lisérgico, ou seja, o uso pelo simples uso da substância.
            Mesmo com a transferência do consumo para centros urbanos, na maioria das vezes, o chá está ligado à religião com toda a dinâmica envolvida. Na segunda-feira, oito (8) de novembro de 2010, foi publicada no Diário Oficial da União a resolução do Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) que reconhece como prática legal o uso da ayahuasca para fins religiosos[5]. Ela elimina a suspeita de que a bebida seria alucinógena e esse preconceito bom foi inspirador para a criação de uma equipe multidisciplinar que fará levantamento e acompanhamento do uso religioso da ayahuasca e das pesquisas para seu uso terapêutico.
Desmistificação do oculto
            É visível que muitas coisas podem ser produzidas por meio do tal preconceito bom. O correto é que todas as opiniões sejam valorizadas e usadas como origem de questionamentos.
            Fica a dica, então, para andar sempre em busca do conhecimento de tudo aquilo que causa algum desconforto, objetivando uma visão ampla do assunto, usando como fonte dados estatísticos e/ou qualitativos do mundo científico, informações atualizadas e seguras da mídia e das políticas públicas, ideias dos profissionais envolvidos e a própria experiência de vida articulada a tudo isso, para melhor compreender a condição humana em contextos similares.
A beberagem de ayahuasca ainda é um assunto pouco conhecido pela população em geral, provocando rejeição e até preconceito, limitando a sua compreensão.
Encontramos com a pesquisa a relação entre o consumo do chá dentro das religiões e o desenvolvimento de categorias como: Tratamento/Prevenção da dependência química; Sentido de vida; Crescimento pessoal; Relações sociais positivas; Relações de amizades e trabalhos e Relações familiares; Aprimoramento da Cognição; Autoconhecimento; Autonomia; Religiosidade e Domínio de si.
Essas categorias foram defendidas como mudanças em decorrência do consumo do chá e percebidas pelos sujeitos como melhorias na sua qualidade de vida.




[1] Psicólogas formadas pelas Faculdades Integradas de Cacoal-RO.
[2] A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a dezembro de 2011, dentro do Grupo de Pesquisa Estudos Psicossociais Regionais/UNESC-RO, sob coordenação do prof Ms Cleber Lizardo de Assis.
[3] Cremasco, M.V.F, Ribeiro, C. S. , Eler, J. F. T. A experiência com ayahuasca sob a perspectiva da psicopatologia fundamental. IV Encontro Psi: Parapsicologia & Psicologia, julho de 2008, Curitiba – PR.
[4] Dutra M. Valvim. Renasce Brasil. Projeto Renasce Brasil. Edição independente, 2ª edição, 2005. Vitória – ES.
[5] Diário Oficial da União, Edição 214, Seção 1, 08/11/2004, pg. 8. Disponível em: http://www.mestreirineu.org/resolucao_4_conad.htm


Algo sobre Psicologia diante da Morte

Juliana Maria Gomes e Leni de Oliveira Freitas Zentarski[1]

Deparando com a dor no leito hospitalar
Em mais um dos dias quentes e escuros de estágio no hospital, estava coletando os corriqueiros e surpreendentes dados dos prontuários dos pacientes no posto 1, como responsável pelos casos clínicos, quando me deparo com o prontuário de número 3/14, cujas letras escritas de forma apressadas e “caprichadas” confirmariam a famosa “escrita de médico”.
Mas claro que gostaria de saber o nome daquela pessoa... sim, entendi, é João. – “Enfermeira, a senhora poderia me ajudar a entender o que aconteceu com este paciente?” Ela respondeu: “sim, parece-me que ele teve um AVC, não vai sobreviver”. Para aquela enfermeira treinada e acostumada com a morte, a perda era de apenas “mais um”, ou menos um, o do leito 3/14 e não o senhor João, pai de 6 filhos, de 78 anos bem vividos.
Pensei “irei visitá-lo!” E na minha angústia de estagiária inexperiente me dirigi até a enfermaria e lá estava o senhor João desfalecido e amparado por uma filha que, com suas mãos trêmulas e cansadas, mantinha o respirador no rosto do pai que não mais respirava, num semblante cansado, cabeça baixa e corpo debruçado quase que cobrindo o corpo, que quase ia, sabe Deus para onde.

Palavras? Silêncio?
A filha parecia esperar de mim algo como aferir sua pressão ou controlar as batidas do coração de seu pai. Dirigi-me a ela e me apresentei, não olhou para mim, pois isso era difícil sem que chorasse; lhe perguntei como ela estava, ao que me respondeu: “Ele está morto, teve morte cerebral, apenas seu coração bate ainda”, e as lágrimas desceram discretamente.
Esta é uma cena comum?! Sim, é, ninguém está totalmente preparado para a dor, ali aquela filha só estava preocupada com o coração de seu pai que ainda batia, mas em momento algum preocupada consigo mesma:  será que havia uma “psicologia da dor, da morte, da tristeza” dentro dela, por estar aparentemente tão contida e serena sem se desesperar?
Eram dias e noites no hospital, uma vigília constante, pois ela era aquela que a psicologia hospitalar nos diz ser a “cuidadora eleita”, e como nos aponta Teixeira (2008), o cuidador/acompanhante vivencia uma angústia em participar com seu ente de sua dor, de seu medo, esperando o diagnóstico de sua doença, sendo que, muitas vezes, o cuidador deve ainda tomar decisões que podem até comprometer a vida do paciente.
Isto nos coloca “de cara” com aquilo que ouvimos nos bancos da faculdade, mas vem a dúvida a respeito de como colocar em prática o apoio profissional diante da morte, nesse caso, de um dos seres que aquela filha mais amava e que não “estava” mais ali. Qual seria o conforto? Apoio? Amparo? Ou Silêncio...?

O preparo: Psicologia não apenas para psicólogos
Estamos nos preparando para a Psicologia Hospitalar? Todo este mundo de significados subjetivos, um duelo de emoções sem fim, devemos manter a neutralidade mas, por favor, não fiquemos desumanos, não podemos virar “robôs” que tratam a dor “como leito 3/14” e, como diria a minha supervisora “A Psicologia está entrando no hospital, vamos fazer a diferença!”. (Ana Nóbrega).
Segundo Angerami-Camon e Chiattone et al. (2010) a Psicologia Hospitalar busca o alívio emocional de pacientes e de seus familiares e, muitas vezes, a ajuda deste profissional implica uma assistência maior no que tange à angústia e à ansiedade que se fazem presentes. Infelizmente os profissionais da saúde não conhecem este trabalho, pois ainda é um campo novo, porém riquíssimo e, como destaca Simonetti (2009), “A medicina quer esvaziar o paciente de sua subjetividade, e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma subjetividade, acreditando que ‘mais fácil que secar o mar, é aprender a navegar...’”.
Trabalhar com a dor é muito frustrante, mas necessário. A filha do senhor João precisava de silêncio e uma companhia para seu silêncio, permaneci por uns instantes ao seu lado, no entanto, esta era a maneira dela, pois já estava em um doloroso período de aceitação; no entanto, o que sempre vemos são pessoas chorando, angustiadas, com raiva, negando tudo aquilo, perambulando pelos corredores e querendo entender certas coisas, sem saber o que está acontecendo, sem nem mesmo saber qual o diagnóstico do seu familiar ou o próprio.
E é com este intuito que a psicologia hospitalar, de acordo com Simonetti (2009), também se ocupa das relações, objetivando a facilitação dos relacionamentos entre paciente, família e equipe. Deve existir certa sincronia, pois de acordo com Angerami-Camon  e Chiattone et al. (2010), não se deve esperar que a família tenha uma estrutura perfeita e capaz de entender as alterações surgidas em face da situação de adoecimento. A família fica em estado de vulnerabilidade juntamente com o paciente, participando junto com ele das diferentes e constantes fases do adoecimento que, às vezes, culmina na dor da perda.
A equipe hospitalar, por sua vez, pode não estar preparada para este turbilhão de emoções e “se congela”, preferindo se manter alheia a tanta dor, e embora esteja preparada para a manutenção da vida, custe o que custar, não parece ocorrer o mesmo com a qualidade desta “semi vida” e a perda... daí, uma pura negação.

Olhos de águia
Humanização! Obrigada Deus por me colocar neste universo de emoções e subjetividade...,estou aprendendo a ver com a Psicologia!
E como diria Kubler-Ross (2008): “A equipe hospitalar, médicos enfermeiras, os assistentes sociais, os capelães não sabem o que perdem evitando estes pacientes. Se estamos interessados no comportamento humano, nas adaptações e nas defesas de que os seres humanos lançam mão para enfrentar essas dificuldades, não existe melhor lugar para aprender.”

[1] Psicólogas formadas pelas Faculdades Integradas de Cacoal-UNESC-RO.

REFERÊNCIAS
ANGERAMI-CAMON, V. A., CHIATTONE, H. B. C. (et al.). E a Psicologia entrou no hospital. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

SIMONETTI, A. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.

TEIXEIRA, V. C. M. Acompanhantes hospitalizados. Psicópio: revista virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde (online), 2008. Disponível em http://susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n7_40.pdf. Acesso em 28/8/2011.






Perdas e reencontros, do objeto e de si

Patrícia Ribeiro Furtunato [1]


O Dente-de-leão
Um dia desses, observei aquela florzinha que a gente assoprava quando criança, e que chamávamos de dente-de-leão, mas que também pode ser considerada erva daninha ou simplesmente “matinho”. E me pus a pensar sobre a vida: No quanto nós seres humanos que, diante das constantes intempéries da vida, parecemos com essa singela plantinha. Intrigante pensar que, quando sopramos o que já nem é uma flor, mas as sementes já secas, elas voam pelo ar conforme a direção do vento. Caem em um lugar qualquer, perto ou distante, e recomeçam o seu ciclo de vida, se adaptando ao seu novo ambiente, à sua nova vida.
Entretanto, se cada uma daquelas sementes cair num lugar de solo fértil, irá nascer de novo, com vigor. As sementes vão florescer, reviver e gerar mais vida.

O dente-de-leão de cada dia
Pensando no ciclo de vida do dente-de-leão, concluí que somos assim também: depois de nos sentirmos a mais bela flor, secamos ali, tentando parar o tempo, tentando deter a beleza dos momentos vividos; tentando não deixar que nada mude. Aí vem a força do vento, da vida e sopra a gente para longe. Aí vem a angústia que as mudanças causam. Desmancha-se a nossa flor e manda-se tudo pelos ares, causando a sensação de que a vida acabou e, como ela, aqueles momentos tão amados, acabou-se a perfeição.
Todos nós, no percurso das nossas vidas, perdemos algo ou alguém, que gostamos muito. A vida é feita de afetos, de relacionamentos, de amores, enfim, de relações que, por vezes, se iniciam despercebidamente, e com, o tempo e/ou a intensidade, pode determinar a força e a solidez do elo que nos liga ao outro. Mas nem sempre é possível manter esses objetos de afeto próximos. Nem sempre manter esse relacionamento depende só de nós. Às vezes as pessoas afastam-se, separam-se ou morrem, deixando assim um espaço vazio, que nem sempre se está preparado para aceitar.
A “morte” está presente nas separações e rompimentos, seja em um relacionamento afetivo, uma amizade, relacionada às perdas materiais, financeiras, de status e poder ou até mesmo da moral e confiança estabelecidas.

A perda do [objeto] amado é uma ruptura não fora, mas dentro de mim.” J. –D. Násio
Em seu ensaio Luto e Melancolia, Freud caracteriza o luto como um estado depressivo que não deve ser tratado como uma patologia, mas como uma fase de inibição do Ego que, de modo geral, é uma reação à perda de um ente querido, objeto libidinoso, ou de alguma idéia pré-estabelecida associada a este ente, o que é de caráter particularmente doloroso até que, em um dado período, o Ego fique outra vez livre e desinibido. Esta fase é marcada pela ausência,ou a já total inexistência do objeto amado, do processo de retirada de toda libido de suas ligações com o mesmo e o deslocamento para outro objeto.
Durante o decorrer da vida, nos encontramos diante da morte das formas mais diversas, a morte física quanto as mortes simbólicas imputadas na conta do dia-a-dia. A partir do nascimento, inicia-se o processo de inúmeras e sucessivas perdas,  como o rompimento da vida intra-uterina ao nascermos, o corte do cordão umbilical, o desmame, as perdas relacionadas ao encerramento da infância, aos amores da adolescência, as dificuldades da vida adulta e a eminência da morte que se anuncia na velhice, perdas no trabalho ou do trabalho, divórcio, entre outras, que ocorrem durante todo o processo do ciclo vital. (KOVÁCS, 1992 apud FONSECA, 2009)

Perder (-se) e reencontrar (-se): um exercício freqüente
Na vida estamos sempre lidando com perdas. Algumas são naturais e orgânicas, enquanto outras são extremamente significativas e dolorosas, pois representam uma grande ausência, simbólica ou real. Esta dor, psíquica, pode ser arrasadora, perdurar por muito tempo ou apresentar-se momentaneamente. Lidar com ela requer a reorganização de nossos “objetos de amor”, mudança de nossos paradigmas e aceitação da nossa própria vulnerabilidade. Algumas perdas poderemos elaborar com maior facilidade, como a reparação oferecida por uma noite de sono bem dormida, enquanto em outras temos de reparar nosso Ego e trabalhá-lo para o seu fortalecimento até que esteja livre para se vincular a novos objetos.
Lidar com as perdas pode ser conflitante, mas é inevitável encará-las. Não há como ignorá-las, deixá-las fora de nossos projetos de vida, pois as perdas nos acompanham a todo instante e em cada fase da vida. O dente-de-leão em todo o seu ciclo de vida, não sabe ao certo o “seu dia de amanhã”, quando alguém vai arrancá-lo e soprá-lo ao vento. Mas tem o seu auge exatamente no momento em que se perde ao sabor do vento. Nesta ocasião tem sua maior oportunidade de encontrar outro rumo para a sua existência. 
Nós também, a cada segundo nossas células estão morrendo e se renovando, nossa memória aos poucos se esvaindo e recebendo novas informações e, em nossas relações, temos perdas e ganhos emocionais. Enfim, tudo é um fluxo constante, perdas e ganhos, chegadas e partidas, encontros e despedidas. Não podemos nos esquivar disso. Assim, com uma experiência dolorosa pode vir uma experiência de vida no sentido de maturidade, de modo a extrair dela algum ganho.
Assim somos nós: morremos e nascemos mil vezes com os percalços dos caminhos da vida, até que um dia aprendemos que a dor de sentir tudo seco e destruído é somente uma pausa. Haverá vida de novo, é só esperar uma chuva boa. A espera pela chuva é o nosso luto por coisas ou pessoas que se foram.

[1] Graduanda em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal, UNESC-RO

REFERÊNCIAS:

FREUD, S.; Obras Completas: Luto e Melancolia. Vol. XIV Ed. Imago. 1º Edição Standard Brasileira; 1974; São Paulo, SP.

FONSECA, C. O. S. O Luto Vivenciado pelos Irmãos dos Pacientes com Câncer na Perspectiva da Psicanálise. Revista Iluminart do IFSP, Volume 1, número 2, Sertãozinho; Agosto/2009, ISSN: 1984 - 8625









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