sábado, 6 de dezembro de 2014

[Cenas] decadadia Psicologia e Psicanálise Nº 18 – Dez/2014 - ISSN 2176-8005 Relações: com o outro, consigo - Edição comemorativa de 5 anos


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Obra produzida durante a Pesquisa Arte e Saúde Mental com Usuários do CAPS de Cacoal-RO, projeto de iniciação científica de Judite Dias de Lima e Prof Ms Cleber Lizardo de Assis



Editorial:

Apresentamos o Cenas, edição 18, dez. 2014, Relações: com o outro, consigo, edição comemorativa de 5 anos de existência, com uma diversidade de cenas cotidianas sobre a relação inter e intrapessoal, discutidas sensivelmente pelos olhos da Psicologia.
O artigo inicial, que abre, Dois problemas sobrepostos: Ciúmes e Aparência, traz uma sobreposição entre dois temas-fenômenos atuais, onde mesclam confusões de sentimentos; O artigo A Mal Amada: sobre os conflitos entre beleza interior e exterior aborda a velha questão, mas pertinente, da beleza externa x interna;
Na sequência, Desrespeito ao idoso no trânsito e Dificuldades de lidar com o outro nas relações interpessoais confronta duas cenas corriqueiras de interação grupal e social, que devem ser redesenhadas no cotidiano;
O último artigo, Natal, solidariedade e exclusão social (?) provoca-nos acerca de certo mal-estar que perpassa esse período festivo de final de ano.
Na seção Cena-Poética, dois trabalhos, Saudade da solidão (solidão da saudade) e Sonho dançante, jogam com as possibilidades de significar algumas cenas que habitam a alma.

Novamente, abrimos essa edição com um dos trabalhos artísticos em que a Psicologia dialoga com a arte pela promoção da saúde mental.
                                    
Boa leitura e boas cenas!

            Prof Ms Cleber Lizardo de Assis, Editor


ARTIGOS:

Dois problemas sobrepostos: Ciúmes e Aparência, Vilson Barbosa........................03

A Mal Amada: sobre os conflitos entre beleza interior e exterior, 
                         Adenise de Oliveira,................................................................................06

Desrespeito ao idoso no trânsito, Judite Dias de Lima................................................11

Dificuldades de lidar com o outro nas relações interpessoais,
                                  Aline Letícia da Vitória....................................................................14

Natal, solidariedade e exclusão social (?), Núbia Manske..........................................18


CENA POÉTICA:

Sonho dançante, Priscila Garcia da Silva.........................................................21

Saudade da solidão (solidão da saudade), Natália Gregório.........................21

CHAMADAS DE ARTIGO 2015 ..................................................................................22









Dois problemas sobrepostos: Ciúmes e Aparência
Vilson Barbosa[1]

Papo no ´busão´
Era um dia comum, um desses em um “buzão” cheio de acadêmicos rumo a mais uma jornada na faculdade, era uma tarde calorosa com seus 35°C de calor, estava eu sentado em uma poltrona situada ao meio do ônibus, ia distraído sentindo o vento quente que entrava pela janela, entretido e encantado com a paisagem seca, “pensando na vida”, até que comecei a prestar atenção involuntariamente nas conversas, havia alguns garotos do lado entretidos com alguma coisa que estavam escutando em seus celulares, outros de alguma forma (talvez cansados por algum motivo) conseguiam dormir com todo aquele calor e barulho, algumas meninas iam lendo algum tipo de apostilas, talvez materiais da faculdade.
Mas o que mais me chamou a atenção (talvez como um futuro psicólogo, à época) foi uma conversa de duas garotas que estavam sentadas exatamente atrás de mim, chamava a atenção pelo tom de voz de uma delas falando indignada para a outra, sobre algo que estava acontecendo na sua casa: ela falava revoltada de sua mãe para sua amiga, dizia que, depois de vinte anos que teve a única filha (no caso, essa menina que falava), de ter feito algumas plásticas e outros tratamentos de estética, ela dizia que sua mão (mãe) estava com um corpo lindo, mas que tinha tomado uma decisão que de ter outro filho, o que a deixou revoltada e contra a vontade da mãe, pois não queria que a mãe ficasse “feia” após ter outro filho, e questionava “como é que agora que ela tá com ‘tudo em cima’ vai ter outro filho? Vai estragar o corpo todo”.
Durante o percurso do ônibus e depois desse acontecimento vim me questionando: Até que ponto vai à vaidade? Vale à pena estragar um plano de gerar um filho por vaidade? Como uma pessoa não compreende algo tão grande como esse, apenas por vaidade? Ou seria apenas uma revolta, pois sabia que, com a chegada de mais um irmã/o, ela perderia o posto de “queridinha” pelos pais? Seria toda a revolta motivada por ciúmes?

Uma coisa não é outra coisa
            Como o assunto engloba tanto a questão da “revolta por deixar de ser filho único” quanto à questão da “estética e aparência”, falaremos um pouco dos assuntos no geral, para que possamos perceber que ambos são mais comuns do que imaginamos. No entanto, ensina-nos como uma “justificativa” ou opinião aparentemente altruísta, esconde intenções egoístas.
            Na questão estética/aparência, atualmente um dos temas mais comentados da atualidade, passa a ser adotada por algumas pessoas como algo de mais importância para elas. Isso tudo por que somos manipulados diariamente pela mídia, sejam revistas, jornais e principalmente os programas de televisão, que impõe às pessoas uma imagem corporal perfeita.
            Essa superproteção da imagem corporal da mãe pela filha talvez seja uma forma de desviar o verdadeiro sentimento de não querer “dividir” os pais com mais um irmão/irmã; mas isso não surge do nada, normalmente essa “revolta” se apresenta nas primeiras idades quando normalmente, na maioria das vezes, os casais optam por mais um filho, é provável que toda essa revolta esteja acontecendo por esse motivo, e manifestada através dessa “preocupação” com a imagem corporal da mãe.

Sobre imagem corporal e ciúmes
            Em tempos que o corpo se encontra em evidência, o fator “imagem corporal” é um tema de difícil mensuração, com, fatores psicossociais, físicos e fisiológicos, tudo influencia na definição desse tema (Knijnik & Simões, 2000). Uma pesquisa realizada recentemente, aponta que cerca de 51,1% das mulheres estão insatisfeitas com sua imagem corporal (FREITAS, LIMA, COSTA e LUCENA FILHO, 2010).
A imagem corporal é uma ilustração que se tem na mente sobre o tamanho, forma e imagem do corpo, como também aos sentimentos que estão relacionados a essas características bem como às partes que o constituem. Assim, a imagem corporal envolve diversos fatores que se inter-relacionam, como os perceptuais, de atitude e emocionais (Almeida, Santos, Pasian e Loureiro, 2005).
De acordo com Becker (1999), a avaliação da autoimagem corporal acontece a partir da interação com o meio, assim a autoimagem é desenvolvida e pode ser reavaliada de forma contínua durante a vida inteira.
Já o ciúme seria caracterizado por três propriedades: ocorre no contexto de um triângulo social de relações; a relação entre a pessoa enciumada e a pessoa querida precisa ser próxima e valiosa; e o ciúme é disparado pela perda real ou iminente dessa relação para um rival. Assim, o ciúme pode ocorrer em relações não românticas, vinculando-se, entre outras coisas, à perda da atenção da pessoa querida. Desse modo, irmãos pequenos reagem uma perda (real ou fantasiosa) de atenção quando um dos pais lhes “retira” o foco e interage com o outro filho (PEREIRA e PICCININI, 2011).

Dizendo o que realmente se deseja
O ciúme pode acabar se tornando o principal causador dos outros fatores, como vimos pois faz com que as pessoas não raciocinem direito, como na nossa cena, os personagens deixam de ver todos os lados do acontecimento e passam a observar apenas o que lhe fazem interesses, esquecem o próximo.
Talvez, o mais certo a se fazer no caso da menina da cena inicial, seria um bom dialogo junto com a mãe, sendo que essa conversa com amigas ajuda a desabafar, a falar o que sente, embora de forma limitada, mas não vai resolver o problema; daí, o mais indicado seria chamar a mãe, contar o que se passa, o que ela esta sentindo em relação a tudo isso, se é de fato devido à aparência corporal da mãe ou se é o fato de ter que “dividir” a mãe com mais um irmãozinho. Ou seja, nada melhor do que conversar e confessar tudo a ela.
Mas falar o que se deseja e o que se teme realmente, quase sempre nos faz distorcer o que acabamos por dizer.

[1] Psicólogo formado pela UNESC - Faculdades Integradas de Cacoal.

Referências

ALMEIDA G.A.N., SANTOS J.E., PASIAN S.R., LOUREIRO S.R. Percepção de tamanho e forma corporal de mulheres: estudo exploratório.  Psicologia Est., 2005.

BECKER, B. O corpo e sua aplicação na área emocional. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital nº, 1999.

FREITAS, C.; LIMA, R.; COSTA, A.; LUCENA FILHO, A. O padrão de beleza corporal sobre o corpo feminino mediante o IMC. Revista Brasileira de Educação Física, São Paulo, v.24, n.3, p.389-404, jul./set. 2010.

KNIJNIK, J.; SIMÕES, A. Ser é ser percebido: uma radiografia da imagem corporal das atletas de handebol de alto nível no Brasil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.14, n.2, p.196-213, 2000.

PERREIRA, C.; PICCININI, C.; Gestação do segundo filho: percepções maternas sobre a reação do primogênito. Estudos de Psicologia, Campinas, 20011.







A mal Amada: sobre os conflitos entre beleza interior e exterior
Adenise de Souza Oliveira[1]
“Fazer uma fenomenologia da corporeidade não é descrever um corpo, mas sim a qualidade e os significados de uma experiência, que esteja intimamente relacionada com este corpo” (REHFELD, 2004).


 Quero ser outra!
Certo dia me deparei com uma mulher bem sucedida, bonita, com nível superior, concursada em um ótimo serviço, com casa própria, carro, simpática, educada e querida por todos, porém magoada, ferida, chorando muito e com auto estima baixa porque tinha sido trocada por outra pelo seu namorado.
A ocasião da cena aconteceu em uma sorveteria e no momento em que desabafava com suas amigas sobre o acontecido, passou uma mulher toda musculosa quando vários homens da mesa ao lado mexeram. Então ela viu os homens mexendo e disse: “Eu quero ser assim toda musculosa, para onde eu passar causar com os homens”. Todavia me perguntei: O que faz uma mulher magoada, com a autoestima baixa e com tantas qualidades querer procurar beleza exterior ao invés de procurar tratamentos psicológicos para ajudar a resolver os conflitos existentes dentro de si, que a deixa para baixo?

Interior Versus exterior:
A cena acima nos demostra uma situação de uma moça com autoestima baixa fazendo interrogações negativas sobre seu próprio corpo e esquecendo-se de suas qualidades. Esse tipo de cena é comum em mulheres, desejando ter um corpo que corresponde às expectativas físicas de outras mulheres que desviam olhares e arrancam suspiram dos homens.
Então: A moça da cena inicial tem todos os atributos que a sociedade julga ser de valor. Mas, ainda que na sociedade não predominasse esses atributos a mesma tem que se valorizar como é! Se olhasse seus conteúdos, se amaria do jeito que és, o que o tempo não rouba e não acaba ao contrário do exterior, mas não! Está magoada e não consegue enxergar suas qualidades e sim, coloca defeito em si, e começa se julgar da forma que ela se vê, por não ser mais vista pelo amado que a rejeitou, achando que só mulheres musculosas é que chamam a atenção dos homens. É claro que chamam atenção! Mas tem aqueles homens que não querem só um corpo musculoso, querem um “pacote completo”. Um bom papo, humor, carisma, educação e etc.
Não que as musculosas não tenham esses atributos, mas na cena que estamos debatendo, a moça não consegue enxerga sua beleza interior e tenta buscar a exterior e o que apenas alguns homens cobiçaram. A moça estava abalada emocionalmente, devido ao abandono do namorado. Para que fique claro cito Araújo (2009), que vem afirmando que beleza não é tudo, e que os indivíduos costumam priorizar outras características que possa trazer algum ganho como a inteligência, companheirismo, honestidade, fidelidade características estas mais importantes do que beleza e poder aquisitivo. Mas, ainda me pergunto: Como fazer a moça se enxergar nessa dura e árdua tarefa de valorizar seu interior?
Escutando uma música ouvi uma cantora valorizando a beleza exterior e vangloriando que arrumou outro namorado porque cuidou da sua beleza exterior. Mas já pensou se acontecesse novamente a experiência desagradável do relacionamento anterior, mesmo estando ela com o corpo desejável? Pois, como disse Pitágoras: “Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo”. Será que a Cantora estaria preparada para estar em um novo relacionamento? Voltando à música, ela dizia: “Pintei, o meu cabelo me valorizei; Entrei na academia eu malhei, malhei; Dei a volta por cima e hoje eu mostrei um novo namorado”.

A Imagem Corporal
O conceito da imagem corporal (Capeletto, 2010) refere-se à imagem que representamos em nossa mente como queremos nosso corpo, buscando intervenções motoras e psíquicas na busca do desenvolvimento do corpo, para a realização pessoal.  Ainda me pergunto: E se o corpo não corresponder ás expectativas em relação à imagem corporal do indivíduo? Não ficaria ainda pior com sua subjetividade? Os indivíduos estão buscando a aparência física devido os ambientes que frequentam, à mídia, a cultura para ser aceito, não conseguindo enxergar o seu “eu” interior como deveria ser, se frustrando cada vez mais quando não chega a maneira que idealiza exteriormente.
Ainda segundo (Capeletto, 2010), os aspectos psicológicos devem ser considerados na prática dos exercícios de musculação, pois as mulheres apresentam distorções da autoimagem no sentido de subestimação e superestimação. Já segundo um estudo de Rodrigues, Alencar, Costa e Ferraz (2010) As mulheres buscam mais os exercícios de musculação em prol dos benefícios da estética do que saúde e a qualidade de vida.
Não que os exercícios físicos de musculação não fossem bons, e que pessoas com boa autoestima não pode fazer os exercícios da musculação, mas a busca do “corpo perfeito” às vezes não é alcançada e, além de frustrações, pode levar ao uso de anabolizantes ou métodos inadequados que levam danos à saúde.

Autoestima
 Para Branden (1998), a forma como nós nos sentimos é algo que afeta todo nosso ser, nossas experiências, desde como agimos em casa, nos relacionamentos, com os pais, no amor, no sexo e até nas metas desejadas. Então se pensamos negativamente sobre quem somos, é claro que desejaremos ser quem não somos e assim desencadear vários dramas, dos quais poderemos não sair, até gerar traumas para o resto de nossas vidas. O Fato é: “O que acontece no nosso cotidiano são reflexos que temos de como nos vemos”.
Quanto maior a nossa autoestima, mais força teremos para enfrentar as diversidades da vida, maior a probabilidade de sermos criativos em nosso trabalho, mais audaciosos tendemos a ser. Maiores serão as nossas possibilidades de mantermos relações saudáveis às relações destrutivas, pois, assim como o amor atrai o amor, a saúde atrai a saúde, a vitalidade e a comunicação atraem mais do que o desejo de ser notado (Branden, 1998).
A autoestima nada mais é que: “A chave para o sucesso ou para o fracasso, isso vai depender de como você se avalia”.


Tudo é uma Questão de Escolha e Prioridade!
Costumo dizer: “Se a beleza está nos olhos de quem vê, quem não vê beleza em nada, precisa tratar a cabeça e não os olhos”, pois á beleza é levada em consideração pois chama atenção, mas depois de 15 minutos olhando a beleza, a pessoa vai precisar de outros conteúdos que a faça interessante.
Que a moça da cena procure uma academia de musculação, mas espero que chegue uma hora em que ela consiga ter sabedoria e discernimento para enxergar suas qualidades como mulher e procure um Psicólogo que lhe ajude a avaliar, identificar e modificar o que a deixa com a autoestima baixa, aliviando suas angustias e anseios, ajudando a se descobrir mais, desejar-se mais, se conhecer melhor, amar-se, tomar consciência que a felicidade só depende dela mesma, aceitar-se da maneira que é, por que grandes mudanças começam de dentro para fora. Amor próprio, antes de amar outro ente querido! Pois quando está bem consigo mesmo consegue contagiar as outras pessoas com o amor que tem por si.
Na sociedade que vivemos hoje, presencia-se supervalorização de atributos físicos (bumbum grande, coxas grossas, barriga de tanquinho etc). Por isso, você que lê este texto, considerando o contexto religioso, a Bíblia relata uma história “do que é ser uma mulher notável”, essa se chamava Abigail e era a mulher de bom entendimento, inteligente, corajosa, ousada, pacificadora, sábia, humilde, mansa, compreensiva e dócil, todas essas qualidades estavam além de formosura. Esses são as qualidades que Abigail tinha e que seu esposo Nabal valorizava como uma mulher de caráter e incrível, se dedicando a ela com amor. (I Samuel 25:1 a 42).
E quando eu escolhi o tema: “A Mal Amada”, não estava me referindo mal amada pelos outros, mas por si mesma, por tentar apagar o que está estampado para todos e para ela mesma: as grandes qualidades que possui, chamada de: BELEZA INTERIOR!

[1] Psicóloga formada pela UNESC – Faculdades Integradas de Cacoal - RO

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, M. R. Escolha de parceiros e restrição de orçamento. Goiânia- GO, 2009. Disponível em: http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_arquivos/11/TDE-2010-07-13T134709Z-788/Publico/Manoel%20Rivelino%20de%20Araujo.pdf

BRANDEN, N. Autoestima: Como aprender a gostar de si mesmo, 1998. Disponível em: http://www.visionvox.com.br/biblioteca/a/auto-estima-como-aprender-a-gostar-de-si-mesmo-nathaniel-branden.pdf

CAPELETTO, E.M. Autoimagem de praticantes de musculação. Porto Alegre -RS, 2010. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31363/000750315.pdf?sequence=1

REHFELD, A. Corpo e Corporeidade: uma leitura fenomenológica. Revista de Psicologia do Instituto de Gestalt de São Paulo, n.1, 2004.

RODRIGUES, B.T.; ALENCAR, K. A.; COSTA, P.P.S.; FERRAZ, L. Perfil dos praticantes de musculação das principais academias de Araguaína – TO. Revista científica do ITPAC, Volume 3. Número 1. Janeiro de 2010. Disponível em: http://www.itpac.br/hotsite/revista/artigos/31/6.pdf






Desrespeito ao idoso no trânsito
Judite Dias de Lima[1]

Disputando espaços
Ao observar uma cena, entre um senhor idoso e um jovem no trânsito, constatam-se as dificuldades enfrentadas nessa relação: idoso/Jovens idoso/trânsito. No momento, dois carros foram estacionados o senhor abriu a porta de seu carro e em seguida uma senhora do outro carro fez o mesmo e mencionou sair deste, porém ambas as portas dos carros colidiram e o condutor jovem aparentado pouco mais de 20 ficou muito irritado, pois seu carro era um modelo novo e o senhor bateu a porta nele.
O jovem foi de encontro do senhor idoso e argumentou que ele não podia ter feito isso, batido no seu carro, que este deveria ser mais cuidadoso, “quem era ele”, em tom de ameaça e com muita agressividade, fazendo menção de agredir o idoso. O senhor sem entender o motivo de tanta agressividade, já que não houve dano nenhum aos carros, entrou na loja e um funcionário vendo a forma de tratamento desrespeitosa com o idoso, conversou com o jovem, pediu para ele se retirar e este foi embora discutindo, mas a intenção do jovem era que o senhor saísse da loja e partisse para briga. O impressionante da situação não para por ai, já que a senhora que acompanhava o rapaz também queria agredir o senhor idoso, desconsiderando que ela também já era uma senhora de meia idade.
Depois de acalmados os ânimos, os funcionários relataram que o senhor é aposentado, mas devido ao seu vasto conhecimento no ramo dos transportes, fora contratado pela empresa para prestar serviços de orientação na manutenção nos caminhões e com isso ele permanece ativo e participativo, passando conhecimento aos motoristas jovens contratados pela organização.
Noutra cena, uma jovem estacionou na vaga direcionada a idosos e deficientes físicos, quando o senhor idoso procurou estacionar, a jovem argumentou que não iria tirar o carro da vaga e que ele procurasse outra. Várias pessoas que passavam, observavam aquela discussão e só depois de algum tempo é que apareceu outra pessoa e ajudou o senhor a conscientizar a jovem e a convencê-la a ceder a vaga, direcionada aos idosos e deficientes.


Acessibilidade da pessoa idosa
Com o aumento da expectativa de vida do brasileiro foram criadas leis que asseguram ao idoso seus direitos sociais, que objetivam criar condições para promover sua autonomia, integração e participação na sociedade, além de favorecer a longevidade com qualidade de vida. Para isso foram priorizadas condições que facilitam a acessibilidade e o atendimento prioritário à pessoa idosa.
Conforme a Lei 10.741, de 1º de Outubro de 2003, dispõe sobre o Estatuto do Idoso, o qual se destina a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos. Conforme o art. 2º dessa mesma Lei, o idoso goza de todos os diretos fundamentais à pessoa humana, que inclui as oportunidades e facilidades para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Orienta ainda o artigo 3º deste estatuto que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público garantir os direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Os direitos assegurados pela Lei n.º 10.048/00 e pelo Decreto n.º 5.296/04 que a regulamentou são: Que as pessoas idosas sejam atendidas antes de qualquer outra, em estabelecimentos públicos e privados prestadores de serviços à população como hospitais, clínicas, supermercados, cinemas, teatros, dentre outros. Observa-se que a lei assegura tratamento prioritário e individualizado, nos quais as pessoas idosas podem contar com atendimento especializado e com funcionários capacitados a trabalhar neste atendimento (FRIAS & LUCAS, s/d).
A Lei assegura o direito do idoso ao acesso imediato ao meio de transporte (ônibus, avião, metrô, trem, barca, navio, etc.), e acentos com placa de reservado preferencialmente para idosos, conforme (artigo 39, § 2º). Nos estacionamentos é assegurado aos idosos 5% das vagas, sejam públicos ou privados e devidamente sinalizados para facilitar a identificação (FRIAS & LUCAS, s/d).
A acessibilidade consiste na possibilidade e condição da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida a utilizar com segurança e autonomia, os espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, as edificações, os transportes e os sistemas e meios de comunicação.


Pelas ruas e avenidas
Infelizmente é comum observarmos além dos ambientes com calçadas esburacadas, falta de rampas, escadas sem opção de acesso, nem de comunicação que facilite o acesso. Além destes empecilhos que dificultam a vida das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, observamos atitudes de desrespeito, como os exemplos dados nas cenas observadas, nas quais se verifica pessoas que, por insensibilidade e/ou pressa, desrespeitam o idoso na sua integridade e ainda interferem nas poucas formas de acesso existentes que poderiam facilitar a sua integração na sociedade.
O conhecimento do direito à liberdade da pessoa idosa, a faculdade de ir, vir e estar em locais públicos e espaços comunitários pode ajudar e facilitar a compreensão e o cuidado no tratamento aos idosos. Sabendo que nenhum idoso pode ser objeto de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, punindo na forma da lei, qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos.
O texto demonstra caro leitor, que as dificuldades nas relações e desrespeito ao idoso, ainda acontecem com muita frequência, não vamos muito longe para observarmos ruas cheias de buracos, pedregulhos espalhados, ressaltos nas calçadas e ruas, as vagas destinadas aos idosos e deficientes nos estacionamentos, continuam por alguns, sendo desrespeitados, além de pouca sinalização para facilitar o acesso das pessoas idosas e deficientes. O que seria importante refletir sobre essa questão? – Responsabilizar apenas o poder público? - ou essa questão, também faz parte da sociedade como um todo?

[1] Graduanda em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal-UNESC-RO. E-mail: juditedias_lima@hotmail.com 

REFERÊNCIAS
FRIAS, S. R. LUCAS, C. B. - Cartilha do Idoso: Idoso: http://www.crde-unati.uerj.br/cpe/cartilha1.pdf - Direção da Universidade Aberta da Terceira Idade - acesso em 15 de Novembro de 2014.

CONGRESSO NACIONAL DIREITO DO IDOSO. Estatuto do Idoso: disponível em: http//direitodoidoso.com.br. Câmara dos Deputados. 2003. Acesso dia 15 de Novembro de 2014.





Dificuldades de lidar com o outro nas relações interpessoais
Aline Leticia da Vitória[1]

Deteriorando as relações
Na procura de uma cena do cotidiano que me chamasse à atenção e tendo dificuldade de encontrá-la, pensando percebi que vivo em uma cena e então resolvi descrevê-la. Trata-se de um grupo de pessoas, acadêmicos necessariamente que tem a necessidade de estarem juntos em um mesmo ônibus todos os dias para fazer o trajeto até a faculdade.
Há algum tempo presenciei a discussão entre esse grupo, uma divisão feita por aquelas pessoas, onde os sujeitos não respeitavam o espaço e as diferenças do outro. Sem saber utilizar o bom senso, as discussões passavam a ser corriqueiras, tudo era motivo para conflito. Penso que o fato de estarem todos os dias juntos, deveria tornar aquele ambiente agradável, mas na maioria do tempo o que ocorre é o contrário, pensamentos e opiniões divergentes causando incômodo nos membros desse grupo.
Talvez questionem o fato de eu expor isso, não se trata de uma história, trata-se uma cena comum e que me causa curiosidade, talvez porque fiz e faço parte desse grupo e tenho convivido com isso há 05 (cinco) anos e hoje com um maior entendimento, compreendo a importância de se manusear corretamente as diferenças, evitando assim acúmulos de conflitos que podem prejudicar no relacionamento diário.
Quando se tem a necessidade de conviver com mais de uma pessoa, geralmente estamos sujeitos a conflitos, por mais amigos que sejamos, por mais tempo que conheçamos aquela pessoa, quando passam a permanecerem por mais tempo juntos e em um mesmo ambiente, as diferenças podem surgir e os conflitos vir à tona, isso acontece, dentre outras coisas, devido à individualidade, os gostos e preferências que cada sujeito tem como característica.

Em outros contextos não é diferente...
Por mais que as pessoas se identifiquem umas com as outras, as diferenças surgem em determinados momentos e sabemos o quanto é difícil lidar com alguém que pensa, que faz coisas diferentes dos nossos costumes e hábitos. Por mais que tentemos, uma hora ou outra o conflito surge.
Podemos citar como exemplos outros ambientes que surgem conflitos, como as organizações, onde a gestão de pessoas, por mais que se trabalhem questões como trabalho em equipe ou então como ser um líder sem menosprezar os seus liderados, os conflitos fazem parte, sempre existem pessoas que não concordam com algumas atitudes dos colegas de serviço, que estão sempre competindo, tentando ser melhor que o outro e é diante disso que os desentendimentos iniciam.
Outro exemplo que não foge do meu convívio está no próprio grupo de faculdade, onde as pessoas também passam um longo tempo juntas, se conhecem, conhecem os limites do outro e ainda assim os conflitos sempre estão presentes.
Não fugindo da realidade, as relações interpessoais mal sucedidas podem estar presentes até mesmo no nosso convívio familiar, de modos que é comum que as ideias, os pensamentos e o modo de ver as situações entrem em divergência entre os membros de uma família.
Sendo assim é possível observar que desde o momento em que você mantém um relacionamento interpessoal com outra pessoa, você com certeza estará sujeito a conflitos. Seja em casa com a família, no trabalho, na escola, no clube e até mesmo na igreja, basta apenas ter que lidar com mais de um sujeito a não ser a si próprio.

Relação interpessoal
Para maiores esclarecimentos, o termo “Relações Interpessoais” é a interação de duas ou mais pessoas e está ligado intimamente com a forma como cada um percebe, sente e age perante a outra (OLIVEIRA, 2011).
O relacionamento interpessoal está presente em todos os momentos de uma vida, seja com a amizade, com a família, com os colegas de trabalho, da escola, da faculdade e também de qualquer grupo de pessoas que necessitam estar juntas todos os dias.
Atualmente é possível perceber a dificuldade encontrada no relacionamento com o próximo e isso acaba tornando a vida do indivíduo ainda mais difícil. Percebemos isso na dificuldade que as pessoas sentem em colocar em prática aspectos simples como um bom dia, um obrigado ou ainda um singelo sorriso
Segundo Duarte (2005) no processo de convivência grupal, seja na família, escola ou trabalho, nós mantemos relacionamentos junto a pessoas de personalidades fortes, muitas delas difíceis de lidar, no que se refere ao processo de interação.  Conforme citado pelo autor, podemos observar que lidar com o outro não é uma tarefa fácil e a tal pessoa, muitas vezes, pode ser o oposto ou ainda similar à nossa personalidade e isso pode dificultar a interação que poderia existir entre ambos.
Em todo grupo existem pessoas que se relacionam com maior ou menor facilidade. Sabe-se que o relacionamento interpessoal é uma das características (ou competências) mais exigidas dos profissionais na atualidade. É também sabido, por outro lado, o quanto lidar com pessoas pode ser difícil. Ter boas relações pessoais significa sentir-se bem a respeito de si mesmo e se entender bem com os outros (SILVA et al, 2003).

Relacionamento adequado, como melhorar isso?
Para que um bom relacionamento ocorra, necessariamente é importante ter o respeito de ambas as partes. Vamos pensar como conquistar o respeito? A resposta aqui parece óbvia, não é difícil de concluir que adquirimos o respeito, dando-o. Dessa maneira é possível facilitar as relações com o outro. Claro, não é possível tratar todos da mesma forma, para tanto é necessário tentar entender a característica de cada um, fazendo esse esforço conseguiremos tratar o outro melhor e assim sermos tratados de forma igualitária.
Acredite o resultado pode ser surpreendente. Tratar bem as pessoas ao seu redor, que fazem parte de um convívio diário, faz com que o meio se torne mais agradável e que situações conflitantes não venham a surgir.
Seria interessante colocar-se no lugar do outro? Entendendo-o para melhor tratá-lo? Afinal, quem não gosta de ser tratado bem?
Toda e qualquer interação entre pessoas não foge da eventualidade de conflitos, sejam simples ou de maior complexidade. Não há como fugir desse fato, já que cada pessoa é única e tem seu jeito singular de pensar e agir, que muitas vezes, vai de encontro ao do outro. No entanto eles devem ser trabalhados para que não promovam resultados desagradáveis ou até mesmo o rompimento da relação. É importante ter tolerância, característica chave para estabelecer relacionamentos saudáveis. Saber relevar situações desagradáveis e contornar fatos indesejáveis é uma habilidade que deve ser adquirida na relação com o outro.
O importante é saber respeitar o espaço do outro, dar espaço para as virtudes e defeitos alheios, sem fazer julgamentos, sem criticar a maneira como o outro opta ser. Saber lidar, conduzir o modo de agir com a diferença do outro facilita na duração dos relacionamentos, mantendo o vínculo afetivo sem muitos conflitos.

[1] Graduanda em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal – RO. Email: Alineleticia_vitoria@hotmail.com


REFERÊNCIAS
DUARTE, D. R. B. Representações sociais no relacionamento interpessoal, 2005. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/representacoes-sociais/representacoes-sociais3.shtml#refer.

OLIVEIRA, G. D. Relacionamento interpessoal, 2011. Disponível em: http://www.duarteoliveira.adv.br/artigos/22/relacionamento-interpessoal.

SILVA, D. M; NUNES, L. Z.; ARAGÃO, N. A.; JUCHEM, D. M. A importância do Relacionamento Interpessoal no contexto Organizacional, V CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 2003. Disponível em: http://www.convibra.org/2008/artigos/289_0.pdf.





Natal, solidariedade e exclusão social (?)
Núbia Manske Vieira[1]

A chegada do “espírito natalino”
Era 7:30 da manhã de um sábado de fim de ano. As pessoas começavam a se aglomerar dentro daquele comércio de varejo procurando enfeites natalinos para enfeitar suas casas, presentes para os amigos próximos ou lembrancinhas de amigo-secreto para o colega da empresa que nem ao menos conversou alguma vez na vida. E ali estava ele, o cara da cadeira de rodas, querendo passar do corredor de utensílios domésticos. Mas ele não conseguiu. Ficou ali por 10 minutos esperando uma brecha, mas a fila dos caixas o impedia que movimentasse e provavelmente aquele barulho todo não deixasse com que ele pedisse licença. Ou ele não falava. O fato é que as pessoas passavam, olhavam e iam. Provavelmente foram os 10 minutos mais longos daquele dia na vida dele. Ou foram apenas mais 10 minutos.

Não havia solidariedade
Encontrar-se com pessoas com alguma deficiência se torna “natural” nos dias de hoje. Isso porque cerca de 45,6 milhões declararam possuir alguma, segundo o Censo 2010 feito pelo IBGE[2]. Portanto, ao menos uma vez ao dia você irá se esbarrar com alguém assim – se você não for uma dessas pessoas. Mas caso não aconteça, ao menos irá “sentir falta” dela quando estiver passando por uma calçada e precisar ir pela rua porque ela acabou do nada.
Ou quando estiver vendo sua novela preferida e durante os comerciais aparecer uma mulher gesticulando com as mãos algo que você não sabe, pois seu filho deu um berro no quarto dele pedindo comida e não conseguiu ler a legenda. Lembra-se daquela vaga de estacionamento que havia em frente à farmácia e você resolveu estacionar rapidinho, mas quando voltou tinha uma multa te esperando? Pois é.

A desigualdade mora no Polo Norte
O velhinho vestido de vermelho mal chegou aos shoppings das cidades grandes e a criançada já está pedindo seu presente de Natal adiantado aos pais (porque o velho nunca deu nada mesmo). Apesar disso, há um universo totalmente estranho em que crianças não ganham presentes porque os pais não têm condições de comprar. De fato ninguém quer estar nesse lugar.
Uma pessoa com deficiência não foi sentenciada pela natureza, mas apesar disso, possui uma desvantagem social que é resultada de um movimento discursivo do que é “normal”, que descreve os impedimentos corporais como algo aversivo à vida social (Diniz, Barbosa & Dos Santos, 2009).
A desigualdade e a exclusão social são termos amplos, estão presentes nas minorias e nos universos espalhados da nossa cidade, do nosso mundo. Lembra-se do cara com cadeira de rodas? Ele estava impedido de passar pelo corredor, não só porque ele não podia simplesmente se levantar e sair andando, mas pelas pessoas que ignoraram o seu impedimento e provocaram a experiência da desigualdade na vida dele. A opressão veio à tona, resultado das barreiras sociais de uma sociedade não inclusiva.

A Psicologia no papel de “Mamãe Noel”
            A Psicologia nos faz compreender que a matéria prima da nossa subjetividade é fruto da nossa vida vivida, a que nós mesmos construímos. Para Bock (2011), se mantermos a construção de uma sociedade desigual como a nossa, seremos cúmplices de uma subjetividade desigual, onde uns serão dominantes e outros dominados, uns humilhados e outros subalternos. Além disso, a exclusão social sai do nosso pequeno "universo" e é ampliada para uma dimensão política, onde é vista como uma exclusão do campo dos direitos (FRIGOTTO, 2010).
Apesar disso, a Psicologia está longe de ser a mamãe de todos os “excluídos”. Historicamente, ela foi sendo construída em torno de uma filosofia do “eu”: quem sou EU? de onde EU vim? o que EU posso fazer? Kant (1999) salienta que a Filosofia é, impreterivelmente, uma forma de antropologia. Baseado nesse pensamento pode-se perceber que a questão sobre o ser humano se torna central em toda reflexão filosófica.
Ana Bock, em seu texto sobre Psicologia e Políticas Públicas, retrata essa crítica à Psicologia atual no país:
É preciso colocar a Psicologia a serviço da sociedade; é preciso colocar a Psicologia a serviços da construção de um mundo melhor, de condições de vida digna, de respeito aos direitos e da construção de políticas públicas que possam oferecer Psicologia a quem dela tiver necessidade. (BOCK, 2011, p.7)

Certamente a exclusão social poderia ser o diagnóstico e a denúncia de um conjunto de realidades muito amplo onde cuja base está a perda parcial ou total de direitos econômicos, socioculturais e subjetivos (Frigotto, 2010).     
Tratar de desigualdade e exclusão social não é somente papel da Psicologia, é papel da sociedade como um todo. Devemos conhecer para entender e compreender para não julgar. Tornar o acesso das pessoas com deficiência a uma política pública eficaz é uma meta da Psicologia, mas olhar para o cara da cadeira de rodas e permitir que ele se movimente por aquele corredor é uma tarefa de todos nós.

[1] Graduanda em Psicologia pelas Faculdades de Cacoal-RO. Email: nubiawatson@gmail.com

[2] Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristica
s_religiao_deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia_tab_pdf.shtm>


REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês Bahia. 2011. Psicologia e Políticas Públicas. Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.crpmg.org.br/> Último acesso em: 18 nov. 2014.

DINIZ, Debora; BARBOSA, Lívia; DOS SANTOS, Wederson Rufino. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur, Rev. int. direitos human. vol.6 no.11 São Paulo Dec. 2009

FRIGOTTO, Gaudêncio. Exclusão e/ou Desigualdade Social? Questões teóricas e político- práticas. In: Cadernos de Educação, set/dez. 2010.

GESSER, Marivete; NUERNBERG, Adriano Henrique; TONELI, Maria Juracy Filgueiras Toneli. A contribuição do modelo social da deficiência à psicologia social. In: Psicol. Soc. vol.24, no.3, Belo Horizonte. 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br> Acesso em: 18 set. 2014.
KANT, Immanuel (1724-1804). Crítica da Razão Pura. Trad. Valerio Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1999.





[CENA] pOéTICa


SONHO DANÇANTE
Priscila Garcia Silva[1]

Chegou como um sopro
Não trazia nada
Apenas a vontade de voar
Sonhava ser bailarino
Numa grande companhia de dança
Quando o pai o pegou dançando sobre a cama desarrumada
Bateu-lhe tanto que estourou o joelho do menino
Sonho mutilado dentro do seio familiar
Passou a se calar
Nenhuma música mais foi ouvida de sua boca
Talvez por isso, alçar voos parecia menos perigoso que caminhar
Com asas abertas
Não haveria recordações da coça do pai
Com asas abertas
Talvez ele pudesse retomar o velho sonho
E dançar ao sabor do vento
Caminhando, sentia latejar todo o tempo o joelho estourado
Doía mais a morte do sonho que o joelho em si
Sonhou tanto com suas asas crescendo
Que um dia acordou no alto do morro
Vestido apenas com o velho calção azul marinho
Num frio de arrepiar
Sentou-se agarrando os joelhos
Contemplou a madrugada querendo entender como chegara ali
Lembrou-se do sonho
Das asas se abrindo
Da voz dizendo que ele deveria aprender a voar
Sonhou tanto que aprendeu
E todas as noites voava até o morro
Para ver a cidade acordar.




SAUDADE DA SOLIDÃO (SOLIDÃO DA SAUDADE)
Natália Gregório[2]

Os corredores da faculdade
Tem o mesmo cheiro dos meus treze anos de idade.
A mesma melancolia de antes
Está aqui, mas mais forte.

E toda noite
Eu me deito com a minha tristeza,
Só minha e de mais ninguém,
Causada por tantos ‘alguéns’.

Só eu estou com ela,
Estamos sozinhas juntas.
Mas eu ficando junto a ela,
Eu estarei sozinha.

Eu me despedi dela a algum tempo
Só que às vezes ela insiste em voltar
Puxa-me pelo braço aos prantos
Mas eu sequer olho pra ela.

Houve um tempo que eu havia me acostumado
Eu até gostava da presença dela
Mas o mundo estava se tornando escuro
Eu precisava voltar para luz.

Adeus,
Tchau,
Até logo,
Ou até nunca.

Espero que eu nunca mais sinta sua falta
Espero que nunca eu sinta saudade da sua presença
Espero superar o que passei contigo
Espero esperar mais de mim.

Mas quando eu me deito,
Ainda sinto falta daquele abraço forte.
Que me fazia dormir em lagrimas,
E me fazia acordar com vontade de deitar e nunca mais levantar



[1] Psicóloga graduada pela PUC-MG. Poetisa, Missionária leiga/Voluntária na Casa da Caridade (Ruy Barbosa BA)
[2] Graduanda em Psicologia pela UNESC – Faculdades Integradas de Cacoal-RO.




EXPEDIENTE E CHAMADA DE ARTIGOS

1 Do título: [Cenas] periódico de psicologia e psicanálise ISSN: 2176-8005

2 Linha Editorial e Conceito do periódico:
- Com fins sociais e para público diverso, visando discutir temas da atualidade a partir de olhares da psicanálise e psicologia (diversas abordagens e linhas teóricas);
- Movido por um “espírito agenciador de ricos processos de subjetivação”, de desafio à criatividade de existir, de circulação do saber acadêmico no social;
- Reflexão sem ‘achismos’, sem o protocolo dos artigos clássicos; simples sem ser simplista;
- Tática: circulação em formato digital, em pdf, e armazenamento em site, podendo ter impressões livres e solidárias desde que citadas a fonte e a autoria;
- Perfil de autoria: discentes e professores de Psicologia e Psicólogos.

3 Instruções a autores de artigos:
- O Artigo deverá ter em média de 850 palavras, em temática livre, sobre/a partir do cotidiano e seguindo a Metodologia Cenas para a sua produção (abaixo);
- O autor deve-se indicar sua afiliação institucional e breve currículo;
- Fonte: arial; tamanho 11; espaço 1,5
- Referências: ABNT e APA

4 Metodologia Cenas (observar a sequencia para a produção do artigo):
Cena Cotidiana: Extrair do cotidiano uma cena presenciada/vivenciada, que lhe chamou a atenção e que pode se tornar uma questão para a Psicologia;
Cena Contemporânea: A cena anterior deve ser “ampliada”, de forma a identificá-la em outros locais e contextos, de forma que a perceba de forma recorrente, mesmo que variando a forma;
Cena Pática: É a apresentação de qual seja a “questão pática” envolvida, ou seja onde está o “x” da questão para sujeito psi (“Pático” é oriundo de “pathos”, termo grego que significa estado de passividade, de paixão) – portanto, é o cerne da discussão e do problema;
Aqui deve-se evocar alguns autores importantes para contribuir para o problema, mas de forma a facilitar para o leitor um aprofundamento posterior;
Cena Nova: É o momento em que deve apontar as “pistas” para a resolução do problema, sem a tentativa de resolvê-lo ou fechar a questão; é o momento de vislumbrar novos cenários e as cenas inventivas.

5 Outras linguagens: O Cenas aceita submissão de outras linguagens como poesia, artes visuais e plástica, crônicas, contos e outros, desde relacionados à temática psi.

Editor Responsável:
Cleber Lizardo de Assis
Facebook: prof.cleberassis

Acesso às edições anteriores: www.cenasdecadadia.blogspot.com.br