Editorial:
Apresentamos o Cenas, edição 17, fev
2014, onde prosseguimos na reflexão do humano com suas estranhezas e
desumanidades mas, claro, apontando, quiça, pistas para tal processo de
humanização.
O artigo que abre, O
prazer na desgraça alheia, toca nessa coisa estranha de gozar na dor do
outro, mas haveria escape? Em A
família e o filho com Paralisia Cerebral, o tensionamento entre ser humano e tornar o outro humano a partir do
episódio de ter um filho ‘diferente’; finalmente, em Respeitando
as diferenças na visão da relação cão e gato, uma provocação irônica sobre nossa humanidade que não respeita o outro
por não ser o que somos e, por isso, nos mantém numa escala quase-animal.
Segue na seção Cena-Poética, dois
poemas-esforços de se manter humanos, Ódio e Devaneios.
Ah, e abrimos com um mosaico de
trabalhos artísticos de usuários do CAPS de Cacoal, em que a Psicologia se
apresenta como dispositivo de promoção de saúde mental. Arte contra a
desumanidade!
Boa leitura e boas cenas! Prof Ms Cleber Lizardo de
Assis, Editor.
ARTIGOS:
O prazer na desgraça alheia,
Gessica Alves de Souza Matthes...........................................................................pag 03
Gessica Alves de Souza Matthes...........................................................................pag 03
A família
e o filho com Paralisia Cerebral,
Tatiane dos Santos P. Mendes...............................................................................pag 06
Tatiane dos Santos P. Mendes...............................................................................pag 06
Respeitando as
diferenças na visão da relação cão e gato,
Jhonata Evangelista Kloos......................................................................................pag 10
Jhonata Evangelista Kloos......................................................................................pag 10
CENA
POÉTICA:
Ódio, Roberta Schulz
Devaneios, Natália
Gregório....................................................................................pag
17
CHAMADAS DE ARTIGO 2014 ..............................................................................pag
18
O
prazer na desgraça alheia
Gessica
Alves de Souza Matthes[1]
Notícias
nossa de cada dia
Hoje,
olhando as notícias da região na internet me deparei com uma de um acidente
onde a vítima faleceu no local, e nessa postagem havia fotos da vítima morta,
várias fotos e comentários de diversos tipos, tanto respeitosos em relação à
família, quanto desrespeitosos em relação ao morto, porque depois que a
tragédia acontece é normal as pessoas começarem a julgar o possível certo e o
errado.
Nessa
história existe também o “outro lado” já que foi uma colisão entre veículos, e
esse outro lado está vivo, e agora terá que agüentar a culpa da morte de outra
pessoa, e estou certa que a sociedade ajudará em muito para que essa culpa
aumente, já que quem morre vira santo né!
Mas
o fato é que depois de ver essa postagem fiquei me perguntando como pode o ser
humano gostar tanto de ver a desgraça dos outros?
Mundo cão
Podemos
perceber que, sempre quando há uma tragédia existem curiosos à volta,
fotografando e comentando, tem uns ou melhor a maioria que não respeita nem a
dor da família que perdeu seu ente querido.
Em
alguns casos mais trágicos, principalmente quando envolvem crianças, as pessoas
fazem manifestações, se indignam com o acontecido, formulam ideias do que
fariam se o acontecido fosse de seu meio,propostas geralmente agressivas, mas a
realidade é que por pior que seja a tragédia, sempre estamos querendo saber do
seu desfecho. O que me pergunto é, será que queremos ver o desfecho da história
por “sede” de justiça e solidariedade à vítima ou porque a desgraça alheia nos
causa um tipo de prazer, uma vontade enorme de saber mais e mais?
Por
mais que não aceitamos isso ou não temos consciência, nós gostamos de ver o
sofrimento alheio, só que na maioria das pessoas, esse sentimento está
camuflado e vem à tona como indignação e uma incrível capacidade de julgar o
acontecido e os envolvidos, como se fossem os “donos da verdade”. Mas já se
perguntaram de onde vem essa vontade de ver gente morta, tragédias e sofrimento
alheio? Imagino que não, afinal não nos atrevemos a admitir vontades tão
desumanas.
Explicando o inexplicável
Segundo
a teoria psicanalítica de Freud surgem duas forças que regem nosso organismo
psíquico, a pulsão de vida e a pulsão de morte, tentarei simplificar para que o
leitor entenda:a pulsão de vida está relacionada a tudo que nos motiva a viver,
crescer, sermos pessoas digamos “de bem com a vida”, já a pulsão de morte está
relacionada ao nosso lado agressivo e violento, o lado escuro que cada um de
nós temos escondido e que não gostamos que apareça.
Freud
sempre nos apresentou como a força regente da psique a pulsão de vida, mas em
uma fase digamos difícil de sua vida, escreveu o artigo “Além do Princípio do
Prazer” de 1920, onde apresenta o conceito de pulsão de morte que nos remete a
ir a fundo e perceber que não vivemos somente desse prazer “bom”, pois a pulsão
de morte é também uma forma de descarregar toda a energia psíquica e voltar a
estaca zero de tensão no organismo.
Por
mais que pareça complicado de entender, quero que o leitor entenda que sempre,
de alguma forma, o que acontece de ruim com os outros nos causa o prazer da
satisfação, ou seja, o outro fez aquilo que não nos permitimos fazer, e essa
massa de sensações é inconsciente.
Freud
em O Mal Estar da Civilização diz que “...surge,
então, uma tendência a isolar do ego tudo que pode tornar-se fonte de tal
desprazer, a lançá-lo para fora e a criar um puro ego em busca de prazer, que
sofre o confronto de um ‘exterior’ estranho e ameaçador”.
Onde encontrar a tranqüilidade?
Agora
pensemos, caro leitor, será que tem como evitar essas sensações que escondemos?
Será que conseguiremos algum dia viver em paz com nossa consciência? Quem de
nós pode julgar a realidade do outro no que se refere a certo e errado?
A
solidariedade fica praticamente impossível de se desenvolver quando envolve
casos como os citados no texto, mas poderia ser uma saída, para aliviar a
consciência de que estamos sim, gostando de ver a dor alheia. Mas haveria possibilidade de tomar conhecimento e,
portanto, controle de certo voyerismo sádico que todos carregamos? Façam suas
apostas.
Referências
ALMEIDA,
B. H. P. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre Sigmund Freud e
Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
FREUD, S. O Mal-Estar na
civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, Vol. 21. Rio de Janeiro: Imago, 1929.
A família
e o filho com Paralisia Cerebral
Tatiane dos Santos P. Mendes[1]
A gestação e parto de Eva
Dona Maria é uma senhora de 57 anos, casada e mãe de
três filhos. Teve suas duas primeiras gravidezes tranqüilas e tudo ocorreu bem
no nascimento de seus dois filhos homens. A terceira gravidez foi uma surpresa
para dona Maria, pois a mesma não planejava em ter mais filhos,mas estava
gestante de Eva e no decorrer da gestação realizou todos os pré-natais e teve
uma gestação muito saudável.
Chegou o momento tão esperado por Dona Maria, o
nascimento de Eva. Dona Maria planejava um parto cesariano, mas os médicos
disseram que o parto seria normal seria melhor naquele momento.
Procedeu-se então o parto de Eva, mas os médicos não esperavam complicações, e
faltou oxigenação em Eva ao nascer. Após o nascimento de Eva os médicos
informaram a dona Maria que Eva ficaria em observação.
Após dois
dias de observação Eva foi diagnosticada com Paralisia Cerebral (PC). Eva
demorou a respirar, lesionando parte (s) do seu cérebro) e diferentes partes do
corpo foram afetadas, alterando o tônus muscular, sua postura e provocando
dificuldades funcionais nos seus movimentos, gerando alterações do equilíbrio,
do caminhar, da fala, como também no seu comprometimento mental. Devido a todas
essas limitações que Eva apresenta na sua vida, ela depende de sua família para
tudo, principalmente de seus pais, mas Dona Maria tem um amor incondicional por
Eva, cuida de Eva com muita dedicação, respeito, carinho e amor.
O Impacto do
diagnostico no contexto familiar
Toda mulher sonha em ter um filho, muitas planejam
com antecedência a maternidade, idealizam aquela criança perfeita, as roupas e
os sapatos que vai vestir, principalmente após o nascimento são muito
importantes para as mães. O enxoval do bebê é preparado durante toda gestação.
Chega o momento tão esperado pela família, o
nascimento da criança, e alguns dias depois é anunciada pelo médico que seu
filho é uma criança diagnosticada com Paralisia Cerebral (PC).
A notícia sobre o diagnostico de deficiência no
filho provoca uma crise que atinge toda a família, abalando a estrutura
familiar e seu funcionamento bem como sua identidade, pois a família se vê
despreparada para enfrentar ou lidar com esse novo modo de ser família, sendo
que o filho deficiente representa a quebra de expectativas, a alteração de
papéis e a não- continuidade da família tal como se esperava.
Pensemos agora: O que acontece com essa família que
sonhava em ter um filho perfeito sem qualquer deficiência? Como vai lidar com
esse filho? Que ajuda terá de toda família? O que oferecerá a essa criança?
Será que seu filho vai ser excluído da sociedade?
A paralisia, maternidade
e a família em cheque
Conceituando a Paralisia Cerebral, segundo Morris
(2007), a encefalopatia crônica da infância foi descrita pela primeira vez em
1843 por William John Little, que a caracterizou, principalmente, pela rigidez
muscular e anos depois a relacionou com o parto anormal. A expressão Paralisia
Cerebral (PC) foi sugerida por Freud em 1893 e consagrada por Phelps, para se
referir às crianças que apresentavam transtornos motores leves, moderados ou
severos, devido à lesão do sistema nervoso central, semelhantes ou não aos
transtornos motores da Síndrome de Little.
Conforme a
OMS, a paralisia cerebral é uma lesão de alguma(s) parte(s) do cérebro. É uma
lesão provocada, muitas vezes, pela falta de oxigenação das células cerebrais:
os neurônios. Acontece durante a gestação, durante o parto ou após o
nascimento, ainda no processo de amadurecimento do cérebro da criança, até
cerca de 2 anos. Se este cérebro sofreu algum tipo de dano nestas fases, esta
lesão na área motora vai provocar deficiência ou perda de funções das áreas
responsáveis pela coordenação de movimentos, o que caracteriza a Paralisia
Cerebral.
Sabe-se que a vida familiar vai sofrer alterações
frente às exigências emocionais do novo membro,podendo gerar conflitos e
levando a instabilidade emocional, alterações no relacionamento do casal e
distanciamento entre seus membros, devido a uma total dedicação que a mãe,
principalmente, devera ter com o filho deficiente. Diante disso faz-se
necessário que a família busque adaptar-se a uma nova realidade e a
reorganizar-se para enfrentar a experiência de viver e conviver com o filho
deficiente.
O ser mulher carrega a obrigatoriedade de tornar-se
mãe de uma criança dentro de um padrão idealizado pela sociedade, visto ai que
se a gestação e o nascimento de uma criança for bem sucedido pode ser
considerado uma vitória em que a mulher tem a sensação da confirmação de sua
potência/competência na tarefa de procriar. Entretanto, o nascimento de uma
criança com deficiência fragmenta essa sensação de capacidade e confiabilidade,
causando uma lenta e profunda ferida narcisista de difícil recuperação, que
leva a família a enfrentar uma situação extremamente delicada, na qual afloram
sentimentos ambíguos, frente a essa nova criança.(Milbrath, Cecagno, Soares,
Amestoy e Siqueira, 2008).
De acordo com Nunes (2007), um dos fatores mais
marcantes relacionados à temática dos problemas neurológicos na infância é a
repercussão do diagnóstico no seio familiar. A família de crianças com PC
enfrenta a crise de perda de um filho perfeito, bem como a tarefa de se ajustar
e aceitar a criança e sua deficiência.
Nesta direção Daminhão (2001), diz que a família
passa por uma seqüência de estágios razoavelmente previsíveis de: impacto,
negação, luto, enfoque externo (colocação da criança em ambiente que não seu
lar) e encerramento. O ajustamento à situação acontece de modo diferenciado, em
tipo e intensidade, dependendo do estágio do ciclo de vida em que a família se
encontra.
As dificuldades que deve ser superadas
Inúmeras são as dificuldades que a família tem com
os cuidados de seu filho com PC. Dentre
essas dificuldades está a falta de acessibilidade, falta de ajuda por
profissionais da área de saúde, falta de condições financeiras, bem como falta
de conhecimento sobre o lidar com a
limitação dos filhos.
A problemática que envolve o indivíduo com PC, está
diretamente relacionada com os pais que assume o papel de cuidador e que passa
a lidar com uma nova experiência, com um mundo desconhecido e com diferentes
necessidades a serem enfrentadas. As mães que cuidam de crianças com paralisia
cerebral convivem com incertezas que se relacionam, principalmente, ao futuro
de seus filhos. No entanto, cabe aos diversos profissionais da saúde procurar
compreender a complexidade da experiência da família de indivíduos com PC para
melhor direcionarem suas ações. Aos profissionais da área da psicologia cabe
dar um suporte à família, auxiliando na modificação de comportamentos que
estejam a interferir no bem-estar da pessoa com deficiência e/ou de quem a
rodeia.
Neste aspecto faz-se importante destacar conforme
Amiralian (2003), que a deficiência ultimamente esta sendo uma problemática que
tem levado um número cada vez maior de psicólogos a se interessar por
desenvolver e explorar esse campo, pois a família necessita de um suporte
psicológico para enfrentar os conflitos que surgem como tristezas, choque, resignação
e negação frente à chegada de uma criança diferente.
Dona Maria, mãe de Eva, provavelmente sofreu o
impacto com o recebimento do diagnostico de PC em sua filha. No entanto,
através dos relatos do marido, sr Valter, hoje dona Maria já tem uma experiência
diferente no lidar com Eva, e provavelmente suas dificuldades iniciais hoje
estão sendo superadas, pois conforme a convivência com sua filha, o amor, o
carinho e o respeito vão sendo de fundamental importância nos laços familiares
e superando qualquer deficiência que suponha existir no indivíduo e na família.
[1] Graduada em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal-UNESC/RO.
REFERÊNCIAS
AMIRALIAN, M L T M. Deficiências: um novo
olhar. Contribuições a partir da psicanálise winicottiana. São Paulo: Estilos
da Clinica, 2003, v.8 n.15.
DAMIÃO, E. B. C.; ANGELO, M. A experiência da
família ao conviver com a família doença crônica da criança. Ver Esc Enferm
USP. 2001 Jan; 35(1):66-71.
DANTAS, M. S. A. et al . Impacto do diagnóstico de paralisia cerebral para a
família.Texto contexto - enferm. Florianópolis
, v. 19, n.2, June 2010 Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072010000200003&lng=en&nrm=iso>.
MILBRATH, V M; CECAGNO, D; SOARES D C;
AMESTOY, S C; SIQUEIRA, H C H. Ser mulher mãe de uma criança portadora de
paralisia cerebral. Acta Paul Enferm, 2008.
MORRIS, C. Definition and classification of cerebral palsy: a historical
perspective. Developmental Medicine & Child Neurology, v. 49,s. 109, 2007.
NUNES, A. M. S. O perfil do cuidador da
criança portadora de paralisia cerebral. Rev Meio Ambiente e Saúde. 2007;
2(1):1-21
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) /
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). CIF: Classificação Internacional de
Funcionalidade,Incapacidade e Saúde. Universidade de São Paulo; 2003
Respeitando as diferenças na visão da
relação cão e gato
Jhonata
Evangelista Kloos[1]
O cão e o gato juntos se acariciando?
Imagem
presenciada em loco pelo autor, próximo a sua residência.
Estava eu voltando do
trabalho quando deparei com uma cena impressionante:
um cão e um gato juntos se acariciando e deitados como verdadeiros amigos e se respeitando; tive logo que pegar meu meu celular e
tirar uma foto, pois logo veio um [2]insight, e pensei
como pode um cão e um gato, tão popularmente
considerados inimigos fatais, juntos em pleno
carinho e vivendo harmoniosamente. Seria a mesma coisa que um corintiano
abraçado a um palmeirense num jogo dos dois times, um israelense casado com uma
palestina e vivendo na faixa de gaza, um
mulçumano extremista almoçando feliz com um norte americano patriota ou um
nazista casado com uma negra.
Esta
cena que relatei não é única a prova é o labrador Murkin e o gatinho
Flufferpants, onde a relação entre essas duas espécies de mamíferos vem sendo
alterada. O dono de Murkin, identificado como D.C. Janelle, disse ao jornal
Daily Mail que o cachorro foi adotado em 2003, quando tinha apenas seis meses.
Há alguns anos, Janelle decidiu criar um local de amparo para animais
abandonados. Desde então, Murkin é rodeado de gatos, incluindo Flufferpants que
foi encontrado nas ruas há um mês e durante o tempo em que ficam hospedados no
abrigo, os animais recebem todo apoio e atenção de Murkin, que também já teve
forte amizade com um coelho.
Imagem de Murkin e Flufferpants
Na China
encontramos também um caso de amizade
entre cão e gato que retrata a amizade entre Dog Li e Xin Kat um gato e um cão condicionado para
viver em harmonia para protagonizar um seriado Chinês.
Se cães e gatos por
“natureza” são inimigos, como podemos presenciar uma cena dessas em que um cão e um gato vivem uma amizade, o cão
debruçava sua cabeça nas patas do gato para se sentir mais confortável e por
sua vez o gato inclinava sua cabeça nas costas do cão, confiando plenamente
nessa amizade, sem desconfiar que esse canino seja seu inimigo natural e sem o
cão desconfiar que esse gato é o seu “inimigo”
por “natureza”, podendo atacar com suas unhas afiadas; Não, nenhum deles se
prenderam a esse “dogma natural” e apenas curtindo seu lazer, deixaram para
traz esses pormenores para se deleitarem em algo maior.
Essa cena tão incomum e tão
instigante me fez refletir por que tantas brigas e intolerância humana? Por que
não agimos feito esse cão e gato que tinha tudo para não se dar bem, mas
souberam respeitar as suas diferenças e não cultivaram a raiva e o ódio; em vez
disso fez nascer o que tem de melhor e mais belo que é a compreensão e a
amizade (e isso em animais!). Enquanto os seres humanos fazem guerra, brigas e
discussões, alimentando um mal-estar na sociedade e a resposta é tão fácil que
nós seres humano dotados de toda inteligência e superioridade não conseguimos
enxergar naqueles tão simples e “pobres” animais que, na sua inferioridade e
ignorância, conseguiram enxergar com tanta facilidade, que é o bem melhor viver
como amigo. Então se podemos ser amigos
por que ter como inimigo? Mas aí o ser humano se depara com outro impasse como
posso ser amigo de alguém que pensa, age e se comporta totalmente contrario do
que eu penso, como posso ser amigo de alguém que faz algo totalmente contrario
do que eu defino como certo?
Diante dessas questões me
faz fantasiar uma outra cena: um gato e um cão podendo se comunicar através da
fala com o ser humano estariam falando: “-
Seu “cabeção” é muito fácil, basta respeitar as diferenças, está vendo eu e o
gato? o gato tem essas garras afiadas
e eu cachorro os dentes fortes, e se quiséssemos um machucaria o outro... o
gato gosta de comer peixe e eu gosto de bife, o gato não gosta de banho e eu
adoro banho, agora por que pensamos diferentes precisamos usar os dentes e a
garras para resolver as diferenças? Não “neh” basta respeitar as diferenças eu
não molho o gato por que sei que ele não gosta de banho e o gato não come meu
bife por que sabe que é minha comida favorita assim nos damos bem.”
Cenas animais dos humanos
Agora, por que o ser humano
não pode aceitar que o outro não goste de rock ou que não quer ir à igreja? Por
que brigamos quando o time perde, por que nos estressamos quando o amigo não
quer emprestar um dinheiro, não seria melhor respeitar? Se ele não vai à igreja
o que vai mudar na minha vida? Se meu time perde o que vou ganhar brigando? Se
meu amigo não me empresta um dinheiro por que vou me estressar? Será que minha
amizade é baseada no dinheiro? São esses apenas exemplos de perguntas básicas
que devemos fazer, e que brigamos e se estressamos sem motivos, por que se
aprendermos a respeitar as diferenças, vamos evitar pelo menos a metade das
brigas, discussões etc.
Respeitando as diferenças,
pode um nazista não se incomodar com um negro por que a cor do outro tem que o
incomodar? Respeitando a diferença um pastor extremista que é totalmente contra
a homossexualidade pode conviver sem atacar um homossexual, pois a sua condição
sexual não vai mudar na condição do outro e assim também um homossexual se importar
para o pensamento do crente que julga que ser gay é errado, já que o pensamento
do outro (desde que seja apenas pensamento e não ataques) não vai interferir na
sua vida. E por que mesmo pensando contrário por que não podemos conviver em
forma pacifica e amiga, pois acima de qualquer dogma cultural existem seres
humanos feitos da mesma “massa” e todos com a mesma necessidade de se alimentar
e descansar, e ainda: que um dia vai morrer da mesma forma. Se respeitarmos as
diferenças com certeza seria possível viver como amigos e a prova disso foi
dada pelo cão e o gato, que não são seres “civilizados”, não tem um telencéfalo
altamente desenvolvido, sendo de espécies diferentes, com estereótipos de
inimigos mortais e mesmo assim aprenderam a viver como amigos, e por que nós
seres humanos com a inteligência superior a todos animais e ainda sim da mesma
espécie não conseguimos vivermos como amigos?
Dificuldade
histórica de incompreensão e desrespeito às diferenças
Se o gato e cão vivem como amigos por que todos os seres
humanos não? Na historia da humanidade é recorrente a falta de compreensão e
não saber respeitar e aceitar as diferenças, como motivos para conflitos
humanos assim foi com Hitler e o nazismo, que por conta de não aceitar os
diferentes (negros, ciganos, judeus) criou uma guerra, ou Mussolini e o
fascismo que não souberam respeitar as diferenças de ideais e culturas, sendo
que poderiam viver em paz, bastando respeitar as diferenças. Será que tanto a
Alemanha quanto a Itália não tinha capacidade de comportar as diferentes raças
e pensamentos?
Cães
e gatos domésticos são companheiros dos seres humanos, desde o principio da
historia da humanidade, sendo encontrados em quase todo lugar do mundo (Campos,
2004 apud Boitani, 1995;
Clutton-Brock, 1995; Serpell, 2000).
E
se você imagina que os cães e gatos são inimigos naturais e é impossível a
convivência está enganado, apesar de existir cães que não aceitam o gato e nem
o gato o cão, mas isso não os define como inimigos, pois não é predador e caça
um do outro, já que nenhum se alimenta do outro (Parisi, 2013).
A
mesma autora afirma que eles não se toleram por questão de disputa territorial
na maioria das vezes, como exemplo um gato se aproxima da casa de um cão e esse
late ou rosna com intenção de alertá-lo que esse é seu território e o gato
assustado se arrepia e emite rosnado e o cão por sua vez entende como uma
agressão começando uma perseguição, isso poderia acontecer com qualquer outro
animal que fosse invadir seu território, a não ser que esse animal fosse
condicionado para viver com outro. A autora também cita que cães podem ter
reações diversas em relação ao gato, podendo cheirar para saber do que se trata
e se o gato não reagir pode até haver uma amizade, mas caso o gato o arranhe
pode o condicionar a temer ou hostilizar os gatos. Já os gatos podem reagir mal
à presença do cão pelo simples fato do medo do desconhecido, mas se
condicionarem o animal é possível sim viver em harmonia como nas fotos abaixo:
Se
cães e gatos podem respeitar as diferenças e viver em harmonia, tudo depende de
serem condicionados, mas como funciona a amizade entre os seres humanos? Será
possível todos viverem como amigos?
Alberoni
(1997) afirma que, à primeira vista não existe mais amizade por conta do
interesses do mundo moderno se torna difícil haver uma relação interpessoal
sincera, e por conta de situação somos obrigados a deixar amigos e perdemos o
contato; entretanto, a amizade é algo essencial para as nossas vidas, pois
amizade poderia ser algo altruísta e sincero, sem importar com ganhos materiais
ou segundas intenções para nos ajudar de alguma forma.
O
mesmo autor cita que a inimiga da amizade seria a inveja, ambivalência e o
poder etc, e esses podem ser fatores que vão afetar na amizade humana, e que
devemos aprender a respeitar as diferenças para que esses fatores não
influenciem no fim da amizade, já que muitos pensam que estamos fadados a
extinguir esse sentimento. “A amizade unicamente é o modelo ideal que pede que
seja respeitado” (Abertoni, 1997).
Bragança
e Parker (2009) afirmam que uma sociedade só será inclusiva quando qualquer
cidadão for respeitado e valorizado por sua pessoa e não por seu físico ou sua
condição social, ou seja, simples: respeitar as diferenças é a chave da
inclusão e inclusão é chave para conviver em harmonia.
Superando
a limitação humana
Diante
das cenas iniciais o que se pode refletir? Se a amizade estar em “extinção”
como podemos fazer para se preservar esse bem tão precioso?
Imagina
os seres humanos vivendo não como o cão e o gato estereotipado socialmente e
sim como o cão e gato apresentados na cena acima, respeitando suas diferenças,
mais (mas) o leitor deve estar se perguntando se isso é possível? Ah! o autor deve ter viajado nas suas fantasias e para
escrever o texto e nem levou em conta a realidade... esse cara não vive em um
mundo real, amizade entre todos seres humanos, esses humanos conseguir
respeitar as diferenças....kkkkk...[3]
Mas
podemos sim viver essa "fantasia real", algo lúdico e
inimaginável, mas possível: Seres humanos que criaram pirâmides sem ao menos
ter tecnologia para isso, seres humanos que criaram a muralha da China, seres
humanos que conseguiram evoluir, criar sociedades e culturas, souberam lidar
com doenças e problemas ambientais, dentre varias outras coisas.... é difícil
imaginar que algo tão simples conseguido por animais com capacidades limitadas,
o ser humano não consiga.
Será
que usando essa capacidade tão deslumbrante que nós seres temos não podemos
mudar uma cultura, uma sociedade? Porque respeitar as diferenças é tão difícil?
Se até Hitler conseguiu impor um pensar coletivo para seguir em uma ideologia
tão insana, por que não podemos persuadir as pessoas a um ideal que só iria
trazer benefícios?
"Posso
não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a
morte o direito de você dizê-las" (Voltaire).
[1] Graduado em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Cacoal UNESC-RO, Email: dancacoal@hotmail.com.
REFERÊNCIAS:
ALBERONI, F. La
amistad. Aproximación a uno de los más antiguos vínculos humanos. Barcelona.
Editora: Gedisa. 1997.
BRAGANÇA, S. e PARKER, M. Igualdade nas diferenças: O
significado do "Ser Diferente" e suas repercussão na sociedade. Editora: Edipucrs. Porto Alegre - RS. 2009.
CAMPOS, C. B. Impacto de cães e
gatos errantes sobre a fauna silvestre em um ambiente periurbano.
Piracicaba, São Paulo. 2004.
LIZARDO, C. A. Expediente e
chamada de artigos. 2013. Disponível em: <www.cenasdecadadia.blogspot.com.br>.
PARISI, S. C. Cães e gatos podem
viver juntos?. São Paulo. 2013.
[CENA] pOéTICa
Ódio, Roberta
Schultz[1]
Me domina, me agita
Engulo, seco, o que insiste em sair
Vontades intensas, vontades insanas
Preciso correr, preciso ficar
Não dá pra pensar.
Objeto à frente. Objeto lançado ao chão
Saio andando sem direção.
Depois páro, volto, sento.
De novo, Agitação.
Agonia.
Vontades intensas, vontades matadoras.
Quase necessidades.
Alívio? Não.
Me parece raiva, mas ainda é pouco.
Um surto?
Ódio.
Devaneios, Natália
Gregório[2]
Essa
realidade às vezes me assusta
E
confesso que me cansa
A
rotina se tornou uma regra
Preciso
descansar desse mundo cinza
Mas
quem sabe se eu fechar os olhos
Ou
apenas olhar pro céu
Eu
posso atravessar o mundo
Mas
continuar aqui em pé
Posso
ir pra aquele parque que eu tanto gosto
Ou
até mesmo ir pra lugares que nunca fui
Posso
viajar um mundo
Sem
pagar passagem alguma
Doce
alivio momentâneo
Que
nos faz desprender dos problemas rotineiros
Que
por um instante
Me
faz esquecer que amanhã é tudo outra vez
Mas
alguém me puxa da viagem
E
me faz uma aterrissagem brusca
Com
o peso dos problemas e responsabilidades
Caindo
sobre a cabeça
Mas
é só eu ter um tempo vago
Que
irei embarcar mais uma vez nessa ‘viagem alivio’
Que
me faz ficar leve de tudo
E
voar pelo mundo do prazer irreal momentâneo.
[1]
Graduanda em Psicologia,UNESC-RO
[2]
Graduanda em Psicologia,UNESC-RO
EXPEDIENTE
E CHAMADA DE ARTIGOS
1
Do título: [Cenas] periódico
de psicologia e psicanálise ISSN: 2176-8005
2 Linha Editorial e Conceito
do periódico:
- Com fins sociais e para público
diverso, visando discutir temas da atualidade a partir de olhares da
psicanálise e psicologia (diversas abordagens e linhas teóricas);
-
Movido por um “espírito agenciador de ricos processos de subjetivação”, de
desafio à criatividade de existir, de circulação do saber acadêmico no social;
-
Reflexão sem ‘achismos’, sem o protocolo dos artigos clássicos; simples sem ser
simplista;
- Tática: circulação em formato digital, em pdf, e armazenamento
no site, podendo ter impressões livres e solidárias desde que citadas a fonte e
a autoria;
-
Perfil de autoria: discentes e professores de Psicologia e Psicólogos.
3 Instruções a autores
de artigos:
- O
Artigo deverá ter uma média de 850 palavras, em temática livre, sobre/a
partir do cotidiano e seguindo a Metodologia Cenas para a sua
produção (abaixo); O autor deve-se indicar sua afiliação institucional e breve
currículo;
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Fonte: arial; tamanho 11; espaço 1,5
-
Referências: ABNT e APA
4 Metodologia Cenas (observar a sequencia para a produção
do artigo):
Cena Cotidiana: Extrair do cotidiano uma cena
presenciada/vivenciada, que lhe chamou a atenção e que pode se tornar uma
questão para a Psicologia;
Cena Contemporânea: A cena anterior deve ser “ampliada”,
de forma a identificá-la em outros locais e contextos, de forma que a perceba
de forma recorrente, mesmo que variando a forma;
Cena Pática: É a apresentação de qual seja a
“questão pática” envolvida, ou seja onde está o “x” da questão para sujeito psi
(“Pático” é oriundo de “pathos”,
termo grego que significa estado de passividade, de paixão) – portanto, é o
cerne da discussão e do problema;
Aqui
se pode evocar alguns autores importantes para contribuir para o problema, mas
de forma a facilitar para o leitor um aprofundamento posterior;
Cena Nova: É o momento em que deve apontar as “pistas” para a
resolução do problema, sem a tentativa de resolvê-lo ou fechar a questão; é o
momento de vislumbrar novos cenários e as cenas inventivas.
5 Outras linguagens: O Cenas aceita submissão de outras
linguagens como poesia, artes visuais e plástica, crônicas, contos e outros,
desde relacionados à temática psi.
Editor Responsável:
Cleber
Lizardo de Assis
Facebook:
prof.cleberassis
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